Uma ditadura é incapaz de inúmeras realizações, inclusive a de prover vacinas para a população. Na América Latina, a Venezuela se encaixa exatamente neste perfil. O chavismo predomina no país desde 1999, quando o militar Hugo Chávez chegou ao poder, e suas ideias perduram até hoje graças aos seus adoradores, como o atual presidente, Nicolás Maduro. A ditadura falha também num aspecto básico: vacinar crianças. Mães desesperadas vagam de posto de saúde em posto de saúde em busca de uma dose para o filho. Um laudo do Unicef, o órgão da ONU responsável pela infância, divulgado recentemente, mostrou que a Venezuela possui o mais baixo índice vacinal das Américas. Apenas 27 % das crianças com menos de um ano de idade receberam alguma vacina. Não surpreende o fato de o sarampo, doença que havia sido erradicada, ter voltado a fazer vítimas.
Entre 2017 e 2020, o Brasil acolheu mais de 600 mil venezuelanos, na maioria dos casos, pessoas que atravessaram a fronteira seca entre os dois países – são mais de 2 mil quilômetros de extensão. O ponto central da caminhada é a cidade de Pacaraima, em Roraima.
A diáspora venezuelana é compreensível. Ao contrário do que sustenta o regime, as pessoas não fogem do país por amarem os Estados Unidos. Elas só querem o básico: comer, trabalhar, desfrutar de liberdade, não viver sob censura, não serem tiradas de dentro de casa no meio da madrugada sem saber o que está acontecendo e, claro, ir ao posto de saúde para vacinar o filho. Em resumo, não ser mandado ou desmandado de acordo com o interesse do governo. O descontrole da vacina em crianças rompe qualquer limite do razoável, até para os padrões de uma ditadura.
O drama da falta de vacina cria uma outra confusão. O ministro da Saúde, Carlos Alvarado, diz uma coisa e a população não sabe se pode acreditar no que ele diz. Muitas vezes, os dados oficiais acabam sendo desmentidos meses depois por relatórios de observadores internacionais. O inconfiável poder venezuelano castiga tanto a população e o sofrimento de crianças é mais uma das consequências da tirania.