Este texto foi escrito em 2023. Mas os fatos narrados são antigos. Eu poderia ter feito a mesma coluna cinco ou 10 anos atrás, os fatos são os mesmos e não dependem só da fiscalização. Nós, os protagonistas, podemos dar uma parcela de contribuição. Se cada um fizesse a sua parte, o trânsito não seria tão hostil.
A selvageria nas ruas e avenidas é um problema crônico. É mais antigo do que o golpe do bilhete. Estaciona-se inclusive sobre a ciclovia, a faixa de pedestre é uma abstração, ônibus lotação, aquele que para em qualquer lugar, solta o pedestre sem o menor senso de coletividade, exatamente o que falta aos demais motoristas. A buzina realmente exerce uma obsessão incrível. A impaciência toma conta do motorista parado na sinaleira. Dois segundos depois do sinal verde, soa a buzina. O apressadinho se arrisca em ultrapassagens perigosas, coloca a vida de pessoas em risco, para ficar parado logo adiante, num sinal vermelho. Não precisa do VAR, está na cara. A despeito da hostilidade no trânsito, o desenvolvimento da cidade não teve a mesma velocidade. As vias são as mesmas. Não há transporte público adequado que sirva de alternativa.
É um ambiente em que a solidariedade foi atropelada pela pressa e pela falta de bom senso. Nesse cenário, parece não existir problema em trancar uma rua ou a passagem para satisfazer o comodismo de parar o carro na frente do destino, como se não existisse mais ninguém no mundo. Pelo comportamento de muitos motoristas, só existe um mandamento: “Não ame o próximo”.
Certa vez, para acabar com um mito endossado até por alguns políticos, questionei o então diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Capelari, se não havia uma indústria da multa.
– Scola, se um azulzinho ficar na esquina por alguns minutos, ele enche um bloco de multas.
Não era um sinal de frouxidão de fiscalização, mas sim que a EPTC não conseguia dar conta das infrações diárias. Para este tipo de trânsito, não tem fiscalização suficiente. A melhoria seria alcançada com bom senso.
A Diza Gonzaga perdeu um filho num acidente de trânsito, liderou uma campanha para transformar a cabeça dos motoristas usando um sentimento fundamental para todos, a empatia. Uma mensagem sempre atual, nunca é tarde.