O número de homicídios no Rio Grande do Sul vem caindo gradativamente desde 2018, ainda bem. São cinco anos a fio. De 2.769 casos, foram 2.033 no ano passado. É uma queda expressiva e, sobretudo, contínua. A cada ano o índice diminui. Não se trata apenas de uma tendência sazonal. Ainda assim, muita gente morre todos os anos no Estado. A redução dos assassinatos é importante para todos. Poupa gente da morte e mostra que as polícias estão vencendo uma batalha nesta guerra.
O que ainda não foi possível derrotar é a guerra do tráfico de drogas que ajuda a engordar essa estatística. Gangues armadas invadem casas de desafetos e executam a esmo. Para matar um ou dois, eliminam quem estiver na frente. É a pena de morte da periferia que chega ao nosso conhecimento pelo celular em vídeos gravados pelos próprios executores. Nesse tribunal informal, o juiz é o chefe da quadrilha. Normalmente, essas imagens são enviadas para os chefes de quadrilha, presos. É um círculo vicioso em que ninguém ganha. O assassinato dessas pessoas significa mais poder para a quadrilha, “vitória” para o líder do grupo.
Um dos possíveis reflexos da matança é que o tráfico é um crime “correlato”, ou seja, começa com drogas. A venda delas sustenta o roubo de carros, os latrocínios (a morte de uma pessoa para o roubo), os golpes e todos os crimes que atormentam as pessoas que, não necessariamente, vivem na periferia. Sem falar que, num fogo cruzado, uma pessoa sem relação alguma com a disputa pode acabar sendo uma vítima involuntária. Ela pode ser abatida pela famosa “bala perdida”.
Como reduzir a carnificina e seus riscos para todos? Não será possível plantar policiais na frente da casa de cada jurado de morte. O papel das polícias está sendo feito, que é prender e processar essas pessoas. O cerne de tudo é o consumo, pois o traficante ganha dinheiro de alguma forma.
Ao contrário de um fenômeno natural, como um ciclone, por exemplo, que não conseguimos impedir, apenas prever, a guerra do tráfico de drogas não é apenas mais um crime. São pessoas que estão sendo mortas e não morreriam se houvesse um entendimento melhor de todos sobre um mal que parece ser isolado, e infelizmente não é.