Mais de 400 pessoas marcharam neste sábado (22) pelas ruas de Santiago, sob a chuva, em memória dos 119 detidos desaparecidos da chamada Operação Colombo durante a ditadura chilena.
— É um ato de memória para que as pessoas, a população, a opinião pública saibam que não os esquecemos, que ainda há muitos desaparecidos — disse Mario Aguilera, 71 anos, que participou da marcha.
A procissão, liderada por 119 silhuetas representando as vítimas, passou por diferentes pontos emblemáticos da luta pelos direitos humanos. Tudo isso no contexto do 50º aniversário do golpe de Estado contra o governo de Salvador Allende (1970-1973), ocorrido em 11 de setembro de 1973. Após o golpe militar, uma ditadura foi instalada, deixando mais de 3.200 vítimas, entre mortos e desaparecidos.
— Estou aqui porque sempre procurei pelo meu filho, desde que soubemos de sua detenção — afirmou Hilda Saldívar, 93 anos, mãe de Gerardo Silva Saldívar, detido desaparecido.
A marcha começou no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, passou pelo lado de fora do palácio do governo de La Moneda, pela praça de armas da capital e terminou no Museu de Belas Artes.
— É fundamental que um povo recupere, exerça o direito e exercite sua memória histórica, pois é a memória que nos permite avançar — destacou Roberto D'Orival, 62 anos, irmão de Jorge D'Orival, outro detido desaparecido.
O que foi a Operação Colombo
Colocada em prática em 1975 pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a Operação Colombo foi uma ação de desinformação para tentar se desvincular da responsabilidade pelas detenções e desaparecimentos de opositores políticos. Para tal, a ditadura transportou corpos de detentos desaparecidos no Chile até a Argentina e criou cenas lá para sugerir que suas mortes ocorreram em confrontos ou execuções internas entre membros do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR, sigla em espanhol) chileno.
O próximo passo foi a publicação de artigos em meios desconhecidos na Argentina e no Brasil, sobre a suposta morte de cerca de 60 militantes do MIR em vários países da América Latina, especialmente na Argentina, por supostas lutas ou execuções internas. Essa informação foi posteriormente replicada por jornais chilenos em julho de 1975.
Nesse momento, as Nações Unidas e organismos interamericanos já acusavam o regime chileno de graves violações aos direitos humanos. Nas diferentes versões da campanha de desinformação, mencionava-se 119 pessoas, a maioria delas militantes do MIR, mas também de outros partidos ou sem filiação política, que foram detidas no Chile entre maio de 1974 e fevereiro de 1975 pela ditadura.
Por esse caso, a Justiça retirou a imunidade parlamentar e processou Augusto Pinochet em 2005, mas com a morte do ex-ditador em dezembro de 2006, ele foi absolvido.