Aos poucos e vagarosamente, relações humanas dilaceradas pela intolerância que marcou a eleição presidencial passada, em outubro de 2022, estão sendo retomadas. Já não era sem tempo, pois o processo eleitoral, em primeiro turno, acabou há seis meses. Como o distanciamento se deu na campanha, soma-se mais de meio ano. Foi quando os grupos de mensagens de família e de amigos ficaram insuportáveis.
É uma retomada gradual e morosa. As relações pessoais foram afetadas porque cada um queria impor a sua verdade sem reconhecer a voz contrária. Os almoços de família se transformaram em ringues nos quais todo mundo tinha opinião. O ódio presente nas redes sociais invadiu nossa realidade física.
Difícil dizer o que é mais inútil do que brigar por políticos que, muitas vezes, assumem posições casuísticas e formam amizades improváveis. No auge do processo de impeachment no senado brasileiro, em 2016, o qual acompanhei como repórter pela Rádio Gaúcha, testemunhei José Serra (PSDB) e Gleisi Hoffmann (PT) gargalhando juntos e efusivamente enquanto seus eleitores brigavam a socos e pontapés do lado de fora. Serra votou a favor e Gleisi contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff. A divergência era ideológica, mas não interferia na relação entre os dois. Os risos foram uma cena de civilidade política. Simbólica porque contrastava com o clima entre eleitores.
O ex-presidente Jair Bolsonaro criticava o Supremo Tribunal Federal (STF) e, na calada da noite, visitava o então presidente da corte, ministro Dias Toffoli, em sua casa, em Brasília. A gestão passada fez o famigerado orçamento secreto, muito criticado por Lula. Agora, na presidência, o líder petista promove uma versão do mesmo tipo para conquistar um punhado de deputados federais do Centrão e garantir o apoio dos vendilhões de voto na Câmara dos Deputados. Ou seja, os políticos são iguais na essência, diferentes na retórica.
Quem briga por política só ganha o rompimento de relações.