Não era o momento de pararmos tudo para jogar os protagonistas do enfrentamento à pandemia no país (seja a estratégia bem ou mal-sucedida) na arena política de Brasília.
Diante do momento mais grave, o ideal seria que as autoridades brasileiras dedicassem todos os esforços para frear o vírus, definir novas estratégias, organizar o país, priorizar a vacinação. Não foi a tese que prevaleceu.
A CPI da Covid obteve assinaturas suficientes. Provocado, o STF deu sinal verde. E a comissão será instalada na semana que vem.
Já que a CPI vai ir adiante, aqui vão cinco perguntas que, espero, sejam respondidas:
1 - Por que o Brasil entrou tarde na disputa mundial pelos contratos de vacinas com farmacêuticas que desenvolviam os imunizantes? O governo brasileiro apostou tudo na vacina da AstraZeneca/Oxford que seria produzida pela Fundação Osvaldo Cruz. E as demais? Quem deveria ter feito essa aproximação e não fez?
2 - O Plano Nacional de Imunização podia ter sido mais claro na prioridades de vacinação. Com doses limitadas, era óbvio que surgiriam disputas de priorização na fila. Faz sentido vacinar profissionais de saúde que estão em home office antes de professores que dão aulas presenciais?
3 - Compra de vacinas e insumos num momento em que o mundo todo busca por isso exige um esforço político e diplomático. Qual foi o papel desempenhado pelo Ministério das Relações Exteriores para abrir caminho para essas aquisições com o menor nível de percalço possível? Não será surpresa se o ex-ministro Ernesto Araújo for um dos primeiros a ser convocado.
4 - Foi mesmo tardio o contrato de compra da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, pelo Ministério da Saúde, como afirmou o próprio diretor do instituto, Dimas Covas, em entrevista ao Gaúcha Atualidade? No dia 20 de outubro, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, confirmou a compra. No dia seguinte, o presidente Jair Bolsonaro o desautorizou dizendo que não compraria a "vacina da China".
5 - Qual foi o efeito prático da estratégia do governo federal, única no mundo, de apostar num medicamento sem comprovação científica dando a ideia de cura enquanto o essencial, como oxigênio, faltava em hospitais pelo Brasil afora?