Há alguns anos notei que alguns dos meus amigos americanos usam as baterias extras para os telefones celulares. Hoje, finalmente, comprei uma. Não porque hoje eu esqueça mais de carregar o telefone, ou porque use mais aplicativos – mas porque constantemente falta luz.
Falta luz por muito tempo. E isso não acontecia antes. Uma das razões, já óbvia para todos, são as mudanças climáticas, que há décadas foram previstas cientificamente. E há décadas vêm sendo sumariamente ignoradas. Contudo, é difícil continuar ignorando depois que elas já se tornam a regra ao invés da exceção. Então, convenhamos, temos ciclones constantemente no Rio Grande do Sul, e vamos ter cada vez mais. E alagamentos, temporais, ventanias e outros tipos de alteração climática extrema danificam cabos de energia, direta ou indiretamente – por exemplo, derrubando vegetação e outras estruturas.
As temperaturas extremas – calor ou frio demais – também hoje se tornaram corriqueiras. Aumentando as demandas de energia. Que vão aumentar cada vez mais. Já há alguns anos se discute na Europa e nos EUA a necessidade dos planos de saúde, veja bem, arcarem com aparelhos de ar-condicionado. Atenção, Unimed e afins: isso vai chegar aqui. Ou seja, a grade de energia que existe hoje não atende a demanda atual – e muito menos a demanda futura.
Outra razão importante para o aumento meteórico das faltas de luz é a tendência de muitos governos privatizarem o fornecimento de serviços essenciais. Vejam bem, eu entendo o racional de privatizar alguns serviços – não acho que tudo precisa ser fornecido pelo Estado. Contudo, ao terceirizar um serviço como esse, um governo, seja do Rio Grande do Sul ou do Texas, ignora muitas obviedades, mas principalmente uma: se uma empresa que visa ao lucro é o único responsável por fornecer energia para a população, um conflito de interesses é inevitável.
Se não há outra opção de energia para as pessoas, o que nos resta quando a empresa precisa escolher entre receita ou fornecer o produto de forma adequada? Não existe pensamento mágico que justifique essa escolha. Meus amigos texanos são campeões de eletrônicos para armazenar energia - o Texas é o único dos 48 Estados americanos não conectados a um provedor publico. As faltas de luz nos EUA por eventos climáticos aumentaram 80% nos últimos três anos, mas são mais frequentes, por eventos não climáticos, no... Texas.
Mas mesmo esses aparelhinhos de armazenar energia são carregados ligando na tomada. Geradores e baterias solares são cada vez mais procurados. Esse é hoje um desafio grande para todos os gestores. Primeiro, todos precisam planejar e prover para uma crise que recém se inicia e cujo desenvolvimento vai depender das nossas escolhas. E não há como ignorar o fato de que algum papel o Estado precisa ter nisso tudo. Se não fornecer o serviço essencial, precisa fiscalizar atentamente e regular com mão de ferro para que ele esteja disponível. Investir em tecnologias alternativas para energia deixou de ser uma opção e se tornou imperativo, para que o futuro não seja apenas escuridão.