Um artigo do mês passado publicado no Journal of the American Medical Association (Jama) calcula que o câncer custará ao mundo US$ 25 trilhões nos próximos 30 anos. Essa projeção pressupõe que o atual investimento na área seja mantido. Para quem não trabalha em saúde, parece um custo inacreditável. Vejam bem, esse custo não leva em conta as inúmeras vidas que serão perdidas ou alteradas para sempre a partir de um diagnóstico de câncer. Para quem já passou por isso, ou tem um ente querido nessa situação, não há custo que possa ser calculado. A estimativa inclui só o que precisa ser pensado por líderes, governos e empresas no seu planejamento: internações e saúde; trabalho perdido; uso de poupanças e aplicações. O valor é maior que o imposto sobre o PIB da China – a maior economia do mundo – por 30 anos.
O que sensibiliza mais um governante, um responsável por planejar finanças, sejam públicas ou privadas, ou leis, a pensar em câncer como prioridade? O câncer é hoje a principal causa de morte no mundo. A estatística indica que uma a cada duas pessoas seja diagnosticada com câncer durante o seu tempo de vida. Mais de três quartos dessas mortes ocorrerá em países de média e baixa rendas – ou seja, aqui. Alguns tipos de câncer serão mais frequentes em determinados países – isso pode ajudar aqueles que fazem leis e alocam recursos a planejar melhor suas estratégias. As novas terapias disponíveis, além de caras, requerem testes diagnósticos que pareiem a droga com a doença, também caros. E demorados. Um paciente de câncer não tem esses recursos, nem esse tempo: cada semana que ele espera para começar o tratamento adequado impacta negativamente em sua expectativa de vida. A urgência é real – mas só se consolida para o indivíduo a partir de um diagnóstico de câncer.
Mais do que terapias, o que deveria ser a prioridade de todos é a prevenção. Muitas doenças de alto custo podem ser evitadas, por exemplo, com vacinação. Uma larga parcela dos cânceres de colo de útero e de cabeça e pescoço devem ser gradualmente eliminadas pela vacinação contra o HPV, o vírus do papiloma humano. Mas isso ainda vai demorar anos. E depende da cobertura vacinal. Para os demais tipos de câncer, pesquisam-se tratamentos principalmente para a forma avançada da doença. Isso porque a esmagadora maioria dos pacientes é diagnosticada já em estadiamento avançado.
Não existem testes confiáveis de detecção precoce – a parte os exames de imagem para câncer de mama e o PSA para câncer de próstata. Não existe cultura – nem entre os médicos nem entre as pessoas em geral – de realizar prevenção. Isso vai além de testes para lesões precoces: envolve educar sobre hábitos de vida, alimentação, exercício. Esta é uma área que precisa desesperadamente de uma abordagem integrada de saúde, economia, ciência e tecnologia, indústria. Como concluem os autores do artigo, “o custo de pensar em câncer é muito menor que o custo de não pensar em câncer”. Eles têm razão.