Estou escrevendo na quinta-feira (15/12). Já se passaram 13 dias desde o último bloqueio de recursos para a educação (último porque muitos outros ocorreram) feito pelo atual governo federal. Havia sido anunciado que o bloqueio fora revertido, porém na quarta-feira (14) verificamos que apenas parcialmente. Os bolsistas da Capes, por exemplo, receberam o salário do mês – com 15 dias de atraso. Mas não os bolsistas das universidades públicas – e nenhum recurso foi liberado para estas.
Há semanas os reitores das universidades instam junto à população, ao Legislativo e ao Judiciário que os auxiliem a convencer o governo que libere os recursos para pagar os serviços essenciais e os salários dos bolsistas. É quase inacreditável que dias antes de deixar o governo essa administração escolha penalizar mais uma vez a educação – especialmente as universidades federais. Na verdade, essa foi a postura constante desde o início deste governo: não apenas penalizar, mas atacar, desmoralizar e publicar enxurradas de mentiras sobre as universidades. Por isso, não é completamente inacreditável.
Desmoralizar a principal fonte de pesquisa e geração de pensamento crítico e conhecimento é uma das principais pautas ideológicas do governo Bolsonaro. Porque o pensamento crítico é o seu maior inimigo, aquele que não conseguem derrotar. Os últimos quatro anos viram um desfile dos piores ministros da Educação da História do Brasil. De outras áreas também – a Saúde e o Meio Ambiente também viveram e vivem momentos terríveis. Mas a educação foi premiada com ministros insanos, corruptos, incompetentes e, para os últimos dias, inúteis.
A educação, como a saúde, funcionou no Brasil no piloto automático. Os funcionários de carreira são tão bons, tão comprometidos que continuaram trabalhando enquanto todas as estruturas de governo eram sucateadas. Até os terceirizados, como limpeza e segurança das universidades, continuam trabalhando neste mês, mesmo sem pagamento. Os bolsistas, que mantiveram a universidade ativa durante a pandemia, estão sobrevivendo com empréstimos de chefes e colegas.
Eu vivi toda a minha vida em universidades: públicas e privadas, nacionais e estrangeiras. Nenhuma, posso garantir, é perfeita. Nenhuma é composta apenas de pessoas ótimas ou horríveis. Todas precisam de atualizações de filosofia e funcionamento. E todas, sem exceção, estão cheias de pessoas inteligentes, que estudam e ensinam por vocação.
A universidade é, no Brasil, a maior fonte de recursos humanos para desenvolver e implementar tecnologias estratégicas. Professores e alunos desenvolvem múltiplos projetos de interesse comunitário, há muito tendo compreendido que só assim a universidade tem sentido. Todas querem interagir com empresas e modernizar transferências de projetos e produtos. E todas formam pessoas com pensamento crítico, apesar de todos os ataques daqueles que tem horror a isso. Por isso, até o último minuto, vamos resistir. E vamos prevalecer.