No seu novo livro Cosmic Perspectives on Civilisation, algo que se traduziria como “Perspectivas Cósmicas sobre a Civilização”, o astrofísico Neil DeGrasse Tyson alterna cenários factuais e imaginários sobre o momento atual que atravessamos. Diretor do Hayden Planetarium do Museu de História Natural de Nova York, além de cientista, ele é um grande comunicador de ciência. Há anos tem seu próprio programa de rádio, o Startalk, onde entrevista “estrelas” dos mundos da ciência e da arte, e substituiu seu (e de tantos) ídolo Carl Sagan na refilmagem do seriado Cosmos. Neil é hoje a coisa mais próxima que a ciência já teve de um superstar – e esbanja charme e intensidade quando fala, cativando a todos.
Na semana que passou, em uma entrevista ao vivo com a jornalista Gayle King, em Nova York, ela perguntou:
– Fale sobre a parte do livro em que você imagina que um alienígena chega à Terra e pede: “Leve-me ao seu líder!”. Onde você acha que deveríamos levá-lo? Para a Casa Branca?
Neil respondeu que dificilmente isso seria legítimo para um alienígena. Ali entra a perspectiva cósmica. Para um ser que dominasse a tecnologia de viajar pelo espaço e comunicar-se com outra forma de vida, dificilmente um político representaria liderança. Nenhuma corrente ou partido poderia representar o ser humano de forma legítima a não ser aqueles que conhecem, estudam e vivem as leis do universo. O valor de Pi não muda na Terra ou em Marte, respondeu. Será sempre igual a “mc2”. (Por sinal, confidencia, se ele fosse um DJ, seu nome artístico seria MC2, aludindo a MC Hammer e Einstein na mesma sentença.)
Se um alienígena chegasse à Terra, ele apenas reconheceria como liderança um cientista, que pudesse compreender o que fora necessário para que ambos chegassem a esse encontro. Este o levaria à Academia Nacional de Ciência, ora bolas! E, mesmo assim, é hoje difícil para a maioria dos humanos compreenderem como funcionam os processos da ciência. Crianças são cientistas naturais; fazem mil perguntas, são curiosas, fazem experimentos o tempo inteiro. Ensinamos primeiro os bebês a falar e caminhar, mas, quando entram na escola mandamos que sentem e calem a boca. Precisamos que a escola, defende Neil, ensine desde cedo as crianças a identificarem mentiras e falácias, ao invés de se conformarem e aceitarem o que lhes for dito.
A perspectiva cósmica de quem já saiu da Terra e voltou, como o astronauta Edgar Mitchell, da Apolo 14, é desenvolver um intenso sentimento global, focado no que há de melhor nos humanos – distanciado o suficiente para entender o quanto as disputas políticas atuais são na verdade um desserviço à humanidade. Fiquei pensando se ele sabe que nem todos os astronautas modificam assim sua visão. Mas enfim. Com tudo o que acontece no mundo, mesmo sem nunca ter ido ao espaço, me permiti parar e sonhar com um mundo de pequenos e grandes cientistas, em que as lideranças fossem derivadas de suas mentes, e não de egos e interesses pessoais.