Nesta semana, a Nature Medicine publicou um estudo de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia com dados de mais de 14 milhões de pessoas. A pergunta do estudo era se a terceira dose (ou reforço) com vacina da Pfizer em quem se vacinou com CoronaVac era necessária.
Essa era uma questão importantíssima para o Brasil, que vacinou assim grande parte da população. Em outros países, as pessoas se imunizaram apenas com mRNA ou apenas com a vacina inativada. Os pesquisadores mediram a efetividade (eficácia no mundo real) desse regime (ou nenhuma vacina), analisando o número de pessoas positivas para o SARS-CoV-2 ou com hospitalização com sintomas graves e/ou morte. A efetividade da CoronaVac entre 14 e 30 dias depois da segunda dose foi de 55% para a infecção confirmada e de 82% contra os desfechos severos. Mas a efetividade seis meses depois cai para 34% e 72%, respectivamente. Reforço com a vacina Pfizer seis meses após as duas doses de CoronaVac empurra a efetividade contra infecção para ótimos 92%, e para 97% contra hospitalização e morte.
Estudos como esse, envolvendo quase 15 milhões de pessoas, trazem uma confiança definitiva, fundamental para o desenho de políticas públicas. Por mais que os movimentos anticiência propaguem desinformação e medo sobre vacinas, esses dados trazem certeza de que apenas a vacinação pode proteger, em nível populacional, de sintomas graves e morte. Que é o objetivo das vacinas – que não protegem da infecção; essa vai acontecer sempre, mas será branda e/ou assintomática.
Para aqueles que acham melhor “pegar de uma vez”, os dados mostram que a infecção não gera proteção uniforme nas pessoas e traz embutido o risco de morte ou de sintomas severos – que persistem por anos. Para os que espalham que as vacinas atuais não protegem das variantes, um estudo recente com a vacina da Moderna sugere que tanto uma vacina atualizada para a Ômicron como a original protegem na mesma proporção – por volta de 95%. Portanto, o importante é vacinar o mais cedo possível.
Para os que acham que vacina inativada – tecnologia mais antiga – é mais segura do que a nova tecnologia de mRNA, esse estudo, e outros, mostram que ambas são igualmente seguras. Mas que a de mRNA é, nesse caso, mais efetiva – e um reforço com ela, necessário. Inclusive, se você pensar em moléculas, a de mRNA é uma molécula igual às suas.
Essa foi a grande contribuição da húngara Katalin Karikó para a vacina. Seus estudos de décadas mostraram que, para estabilizar o mRNA, uma das moléculas mais instáveis que existem, as células do nosso corpo sempre adicionavam pequenas modificações que aumentavam sua longevidade, permitindo que isso resultasse na produção das proteínas que esse mRNA codificava. Karikó copiou exatamente as mesmas modificações para a vacina, reforçando assim a importância da pesquisa básica para transformar a tecnologia, no momento em que mais precisamos.