Nesta semana, a nova variante Ômicron do SARS-CoV-2 se confirmou como a esmagadoramente dominante no mundo. Com uma taxa de transmissão altíssima e, alguns virologistas sugerem, inédita. Esses dados vêm dos países cujos órgãos de saúde sequenciam e testam em larga escala, e cuja prioridade é a proteção de seus cidadãos. Confirmando previsões dos imunologistas desde 2020: enquanto todos não estiverem vacinados, variantes surgirão.
As mutações dessa variante se concentram na porção que liga no hospedeiro. As respostas imunes que nos protegem induzem anticorpos que bloqueiam essa interação. Elas são altas e bem uniformes nos vacinados, mas variam muito nos não vacinados – daí a importância de se vacinar. Lembrando que mesmo uma resposta vacinal forte não protege da infecção, mas da doença. E, quando protege, protege por anos.
Isso porque, além de anticorpos, fazemos células T, que não deixam o vírus que infecta se multiplicar no corpo. E assim o vacinado, mesmo que se infecte, não transmite, ou transmite muito menos. Enquanto houver surtos, nos infectaremos; vacinar é para controlar a lotação dos hospitais e manter condições de atender os que realmente precisam. Que são, hoje, majoritariamente, os não vacinados.
Com as mutações, precisaremos atualizar as vacinas; a Pfizer já começou o primeiro estudo clínico para uma vacina atualizada. Essa, sim, é experimental – até ser aprovada. Enquanto isso, dois estudos recentes trouxeram boas notícias. A terceira dose cria anticorpos que neutralizam a Ômicron. E as respostas de células T induzidas pelas vacinas reconhecem todas as variantes.
A Ômicron não é, como dizem alguns, mais branda. As mortes dos não vacinados mostram isso. Para os que sugerem que a Ômicron é o fim da pandemia e o início de uma endemia, o virologista Aris Katzourakis, da Oxford, lembra que não existe nenhuma lei da natureza que diga que, por ser endêmica, uma doença se torna menos letal. Malária e tuberculose são endêmicas e matam milhões a cada ano.
Esse é um argumento preguiçoso, que ignora o papel do comportamento individual e da ação do poder público em controlar as doenças. No Brasil, as ações do ministro da Saúde vão além da preguiça: há um engajamento sério em perpetuar fraudes. Mesmo sendo compelido por lei e recomendações técnicas a executar a vacinação infantil e não distribuir hidroxicloroquina pelo SUS, ele primeiro convoca uma audiência pública esdrúxula para criar uma controvérsia que não existe. A seguir, emite uma nota que estimula o uso do “kit covid” – que um estudo encomendado pelo próprio ministério mostrou ser ineficaz. Esquizofrenicamente, fala que precisa acelerar a vacinação; alega que a nota foi de um subalterno, não dele.
O comportamento do ministro é desenhado para confundir, mas na verdade é esclarecedor. Estejam onde estiverem suas prioridades, sabemos onde não estão: em liderar um ministério focado na saúde e no bem-estar da população.