Nesta semana a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) trabalhou para liberar a vacina da BioNTech/Pfizer contra a covid-19 para crianças entre cinco e 11 anos. Sociedades científicas trabalharam junto com o órgão, para apoiar, baseados em evidências, essa decisão. As crianças, apesar de apresentarem na maioria das vezes doença leve ou assintomática, se infectam e apresentam altos títulos de vírus – documentamos isso recentemente. Portanto, elas contribuem para a transmissão e, ao se infectarem sem proteção, contribuem para sua circulação e o surgimento de novas variantes.
Por serem assintomáticas, as crianças são o grupo menos testado. Todas as estatísticas de infecções pelo SARS-CoV-2 em crianças estão, por essa razão, certamente subestimadas. Sem vacinação e já de volta às aulas, as crianças provavelmente se infectaram e se infectam várias vezes. Ninguém sabe o impacto que essas múltiplas infecções pelo vírus terão sobre a saúde futura dessas crianças. Vírus esse que, sabemos, leva a problemas como a covid longa, ligada a inflamações que afetam células nervosas. Além disso, existe uma síndrome inflamatória grave em crianças, associada à infecção pelo SARS-CoV-2, que compromete os sistemas gastrointestinal e cardíaco.
Ainda não é possível prever que crianças infectadas podem desenvolver a síndrome. Temos evidências de que os anticorpos em crianças que foram infectadas pela variante original não combatem com eficácia as novas variantes. É fundamental agir agora para proteger as crianças. A partir da próxima semana, no Brasil, a principal proteção que podemos oferecer a elas é a vacinação.
A melhor maneira de retomar as atividades regulares das crianças, como creche, escola e brincadeiras, é vacinar. A melhor maneira de interromper a geração de variantes, de acelerar a volta de atividades, é vacinar.
Essa vacina em especial tem alta eficácia, induz respostas robustas e é segura. O único efeito adverso associado – 0,001% de incidência de uma inflamação cardíaca – é 40 vezes mais provável se a pessoa se infecta do que se ela se vacina. Os estudos da vacina Pfizer em crianças usam uma dose menor, e equipes que coordenam a vacinação em crianças deverão ser treinadas cuidadosamente para garantir a aplicação correta.
Pobre Plano Nacional de Vacinação (PNI), que hoje funciona no piloto automático. Ele precisa do nosso cuidado e apoio. O apagão dos serviços públicos essenciais continua forte por parte do atual governo. Nenhum movimento foi feito pelo Ministério da Saúde para agilizar a compra das vacinas das crianças. Sem mencionar a revoltante atitude de deixar sem proteção os sistemas do SUS, expondo dados dos brasileiros a hackers. Isso gerou uma confusão adicional nas fronteiras e nos aeroportos: sem poder acessar os dados de vacinação, sem orientação firme do Ministério da Saúde, fiscais de alfândega não sabem o que cobrar. No meio da pandemia e, agora, de um surto de influenza.
Cuidem-se, e cuidem das crianças. Porque quem devia estar fazendo isso cruzou os braços e olha para o outro lado. Que ninguém esqueça.