Com a nova variante do SARS-CoV-2 que foi identificada por pesquisadores sul-africanos, confirmou-se mais uma das previsões que cientistas no mundo inteiro fazem desde o início da pandemia. E isso vai continuar acontecendo: enquanto não vacinarem o mundo, como diz o editorial da revista Science desta semana, surgirão novas variantes.
O “pan” de pandemia significa “global”. Um problema mundial não se resolve de forma local. Por isso, cientistas falam com uma só voz quando comentam o assunto. Cada país tem que fazer a sua parte. O problema é que, daqui para a frente, o Brasil cada vez vai fazer menos. O atual governo já há algum tempo não mais governa o Brasil. Mas trabalha com afinco em duas das suas missões mais ferrenhas: o combate à ciência e a destruição dos serviços públicos.
Começou instalando a caquistocracia – o governo pelos piores. O pior ministro da Educação, o pior do Meio Ambiente, o(s) pior(es) da Saúde, das Relações Exteriores. O mesmo aconteceu em CNPq, Capes, Finep, responsáveis pela ciência e tecnologia do país. As verbas dessas instituições foi sugada, assim como a das universidades federais, abrigo da grande maioria dos cientistas brasileiros. O que nós pudemos fazer em relação à pandemia foi graças a verbas que escaparam a esse confisco completamente ilegal.
Milhões de reais aprovados para a pesquisa desde 2018 nunca foram liberados. Os comitês que avaliam pesquisadores e projetos de pesquisa há anos já não o fazem dentro das regras que os profissionais levaram anos debatendo e maturando para garantir a competitividade da ciência brasileira. Não existem mais empregos para os pesquisadores que estamos hoje formando, a ferro e fogo, em plena pandemia. Depois de meses de inação e propaganda mentirosa, ao custo de centenas de milhares de vidas, foram obrigados a implementar a vacinação. Pelo menos sabemos hoje que os antivacina do Brasil são de araque, porque todos se vacinaram.
Hoje, quando um cientista comenta sobre a nova variante, é porque acompanha estudos feitos em países que investem em ciência. Aqui, sem verba, não se sequencia, não se acompanham respostas imunes às vacinas. Dependemos, cada vez mais, das informações geradas no Exterior. Setores de ministérios estão paralisados, técnicos e pesquisadores são afastados, como no Inep; ou renunciam, como no Enem e na Capes. Parlamentares que sustentam um governo que não mais existe não o fazem por indecisão, mas pela oportunidade de extrair privilégios dos serviços públicos. Como uma praga de gafanhotos, ou gângsteres formados na melhor escola mafiosa tipo Família Soprano, tudo o que eles e este governo tocam está fadado a ser consumido e desintegrado.
O último que sair apaga a luz, costumamos dizer. Quando o último cérebro for ejetado do país, a luz já não vai estar funcionando há muito tempo.