Quando Laurie Santos, professora de Yale, decidiu montar um curso sobre a ciência da felicidade, ela não imaginou que a procura fosse de milhares de alunos – teve que lecionar no teatro da universidade. O cerne do curso era entender por que as pessoas, quando alcançavam seus sonhos, não ficavam completamente felizes. Era como se os desejos e expectativas da vida moderna se opusessem e os puxassem para lados diferentes – como conciliar isso?
O curso virou o podcast The Hapinness Lab, com milhões de assinantes no mundo. A primeira versão, em 2019, explorou o que a ciência traz de novidade sobre o tema. Mas, em 2020, Laurie não pôde se esquivar de trazer a origem de todas as ideias científicas debatidas no programa. Para a surpresa de muitos, as respostas a muitas das questões atuais já haviam sido introduzidas há séculos.
Há 2500 anos, na Grécia, o trabalho de um grupo de pessoas muito inteligentes foi pensar sobre questões essenciais. Não eram perfeitos; não havia mulheres. Mas alguns indivíduos excepcionais deixaram contribuições eternas. Por exemplo, Aristóteles – meu “santo padroeiro”. Seu interesse atual é a pandemia (ciências biológicas)? Aristóteles criou esse campo. Ou as viagens ao espaço (física)? Aristóteles. Ou só quer saber de dramas e comédias da Nextflix? Vamos ver: Aristóteles, na Poética!
Mas é nos volumes da Ética que ele traz a imagem do cocheiro tentando dominar dois cavalos que não se alinham, e as ideias de como harmonizá-los para conseguir chegar ao destino – a felicidade. Para ele, existe um caminho para ser uma pessoa melhor: agir de forma a melhorar a vida dos que nos cercam. Para Aristóteles, encontrar seu verdadeiro espírito – seu daimon – vem de praticar atos que resultem em ciclos de proporcionar bem-estar e senti-lo – em si e nos demais. Muitas das ideias que os gregos clássicos deixaram para o Ocidente já haviam sido exploradas por filósofos no Oriente – de Lao Tzu a Confúcio, muito estava lá.
Escrevo isso porque a prefeitura de Porto Alegre propôs excluir o ensino de filosofia do currículo escolar. O resultado de educar sem aprender com os grandes pensadores seria – vamos pensar – um futuro infeliz. Em que todos, mesmo líderes de países, não se importassem com o bem-estar dos demais. Em que decisões fossem tomadas pensando apenas no privilégio de poucos. Em que presidentes fossem escolhidos para serem bufões em nível internacional, cujas trapalhadas tivessem consequências funestas, e servissem para desviar a atenção enquanto alguns poucos se aproveitam. É esse o futuro que você quer para seus filhos?
Em tempo: Aristóteles dedica os dois últimos capítulos da sua Ética para a importância dos amigos na sua vida – algo que os budistas já tinham descoberto, milênios antes. Um curso de filosofia não só te ensina sobre o mundo, mas garante um ótimo papo para o próximo café. Confere lá, prefeito!