Às vezes precisamos tirar umas férias da vida real. Acho que tanques na rua foram meu limite.
Buscando o maior deslocamento no tempo-espaço possível, mergulhei no século XV e descobri que o homem da minha vida – ou o homem que eu queria ser, se fosse homem – infelizmente morreu em 1492. Na Florença dos 1470’s, Lorenzo de Medici era provavelmente a pessoa mais influente do que então se conhecia como o planeta. Mas não era a fortuna do berço que o fazia singular. Dessa família lendária de banqueiros, apenas ele foi apelidado de “O Magnífico” por seus contemporâneos – título do livro de Miles Unger. Educado para liderar, Lorenzo, mesmo rico, cresceu lado a lado com pessoas mais pobres – como seus ancestrais, comerciantes de lã. Instruído segundo as escolas clássicas gregas, entendeu cedo que seu bem-estar dependia diretamente do daqueles que o cercavam.
Vivia-se a descoberta de um mundo novo, um comércio intenso com a Ásia e a África resultante das Cruzadas. Lorenzo cresceu vendo a Itália prosperar ao incorporar novas culturas. Nas ruas daquela Florença andavam, ombro a ombro com o os Medici, cruzados, mouros, comerciantes, religiosos, pedintes e nobres. Ele queria ser poeta; precisava ser banqueiro. Decidiu investir grande parte da fortuna em artistas, arquitetos, escritores e intelectuais. Sua mesa de jantar – e sua folha de salários – reunia Botticelli, Leonardo da Vinci, Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Poliziano.
Maquiavel escreveu O Príncipe para impressionar Lorenzo. No pátio central da casa da família, o avô, Cosimo, havia colocado o que hoje se considera uma das primeiras obras do Renascimento: o Davi de Donatello. Na Academia Platônica, escola de Artes e Letras fundada pelo avô, Lorenzo apadrinhava talentos de origem humilde, como aquele que mais tarde esculpiria outro Davi famoso: Michelangelo Buonarroti.
Na Florença dos anos 1470, Lorenzo bancou a Renascença e mudou a história, trazendo a cultura e a arte que abriram caminho para revoluções científicas. Fascinado pelas máquinas de Da Vinci, entendeu a interdependência entre ciência e cultura: uma não se sustenta sem a outra. Quando ambas florescem, todos ganham.
Tão diferente dos ricaços de hoje. Na maior crise sanitária do século, com o mundo pegando fogo, a contribuição de Bezos é lançar-se ao espaço em um foguete em forma de pênis. E por mais que Musk romanceie viagens a Marte, o que vendeu a seus investidores não foi ciência, mas formas de minerar o planeta vermelho. Talvez apenas não se façam mais homens como antigamente. A última esperança, definitivamente, são as mulheres.