Será que alguém ainda não tem certeza de que é necessário o isolamento físico para conter o espalhamento da covid-19? Países que não fizeram isolamento e não testaram todo mundo estão tendo resultados trágicos. Países que demoraram a tomar essas medidas, mas depois se corrigiram, tiveram boa recuperação. Países tecnológicos, que testam as pessoas, estes, vejam bem: não precisam isolar em massa – isolam apenas a população de risco e os infectados. Essa é a razão de investir em tecnologia.
Por que o Brasil precisa do isolamento em massa? Porque não há hospitais nem testes para todos. Não produzimos biotecnologia. Ao longo de anos, verbas para saúde, ciência e tecnologia foram reduzidas. Em 2019, isso se agravou drasticamente. Houve o sucateamento da máquina pública travestido de gestão. Universidades, postos de saúde, institutos de pesquisa, laboratórios de vigilância epidemiológica, o SUS: profissionais dessas instituições foram atacados. E, subitamente, lembramos por que elas existem – ainda bem.
Nossa curva de casos e mortes deve ser menor do que a dos EUA – que não testam ninguém e que, parece, deve ter uma situação ainda pior do que a da Itália. Isso graças aos nossos postos de saúde e à liderança que o Ministério da Saúde exerceu – e precisa continuar exercendo. Uma equipe que, inicialmente, não era fã do SUS, e hoje certamente repensa esse posicionamento. O caso dos EUA é chocante: nem máscaras existem nos hospitais. Esse é o exemplo da privatização da saúde. O país com a maior concentração mundial de cientistas desmontou os mecanismos públicos para mobilizá-los em uma pandemia.
A comunidade científica trabalha hoje em rede, analisando dados diariamente atualizados sobre vírus, compartilhando descobertas e recursos. No Brasil, as universidades disponibilizam estrutura, profissionais e recursos para ampliar a rede de testes diagnósticos.
Que os erros e omissões que nos deixaram à mercê de uma pandemia sejam corrigidos. Se não para esta, para as próximas. Porque outras pandemias virão – isso é uma certeza.
O Lacen, Laboratório Central de Saúde Pública, que foi atacado – a Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps) foi fechada no Rio Grande do Sul –, está dando treinamento intensivo para isso. Pesquisadores redirecionam insumos existentes, muitas vezes importados e difíceis de obter, para diagnóstico e pesquisa – inclusive vacina – contra o vírus. As aulas não vão parar. Escolas e universidades adaptam calendários. A economia vai sofrer, mas não vai parar. Alternativas (a inovação!) são buscadas por empresários que entendem o valor do compromisso com a comunidade de seus clientes. Jornais são redescobertos: a maioria finalmente percebeu que o Zap é apenas um aplicativo de mensagens.
Em toda essa mobilização, há ausências notáveis, que, ao invés de liderar, se debatem pateticamente. Deveriam focar em apoiar a ciência e fornecer estímulos a trabalhadores e pequenos empresários. Fazem exatamente o oposto, cortando bolsas, propondo o corte de salários, minimizando a doença, informando errado. Quem se comporta assim não é digno da sua atenção ou respeito. Bancos e donos de grandes fortunas devem fazer sua parte: doar. Espero que o mundo volte a valorizar a ciência e a saúde, a preservar a vida. Que os erros e omissões que nos deixaram à mercê de uma pandemia sejam corrigidos. Se não para esta, para as próximas. Porque outras pandemias virão – isso é uma certeza.