Um colega, como eu apaixonado por ciência e fã de empreendedorismo, me pediu pra contar esta história, então aqui vai: a origem da primeira startup de biotecnologia.
Em 1974, Stan Cohen, biólogo da Universidade de Stanford, publicou o famoso experimento do príncipe sapo: clonou um gene do anfíbio e o fez funcionar em uma bactéria. Ele brincava que para saber qual bactéria recebeu o gene, beijou todas para ver qual se transformava em príncipe.
A “brincadeira” mudaria para sempre a maneira pela qual a indústria farmacêutica produziria insumos como a insulina. Na época, o jornal San Francisco Chronicle previu isso. Cohen e seu colega da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF) Herbert Boyer patentearam a tecnologia do DNA recombinante, e muitos cientistas ridicularizaram a ideia.
No ano seguinte, Cohen e Boyer começaram a receber telefonemas de um rapaz de 28 anos, Robert Swanson, do mercado financeiro. Ele queria convencer os dois biólogos a criarem uma empresa explorando essa tecnologia. Cohen não atendia o telefone; sua vida era pesquisa, e não negócios. Boyer recebeu o rapaz no laboratório, e a reunião que deveria durar minutos migrou para um bar e virou história. Assim surgia a Genentech, a primeira empresa de biotecnologia, que revolucionou o mercado farmacêutico ao clonar o gene humano da insulina e produzi-la de forma recombinante. Até então, extraía-se insulina de pâncreas bovino. Nascida na universidade, a Genentech é hoje o braço avançado da Roche, e o encontro entre Boyer e Swanson na mesa do bar bebendo cerveja foi imortalizado em bronze, em uma estátua no pátio da empresa, em San Francisco.
Nem todos os cientistas têm o espírito empreendedor de Boyer; mas ele provavelmente jamais formaria sua empresa sem a colaboração prévia com Cohen. Nem todos os investidores têm a visão de Swanson; a maioria receia investir em biotecnologia, preocupados os tempos longos necessários para retorno de lucro nesses projetos. Mas é da universidade que emerge esse tipo de tecnologia avançada, revolucionária, a partir de pesquisa básica.
As universidades são as parceiras ideais para dividir esse risco: são instituições sólidas, com funcionários permanentes e infraestrutura robusta. Todos os fundadores de startups ensinam: não tenham medo nem se cansem de procurar investimento e ouvir “não”. Repasso o conselho aos empresários e investidores: procurem a universidade e coloquem suas ideias, não desistam no primeiro não. Existe conhecimento no Brasil para ajudar sua empresa. Se não pudermos competir com os gigantes do mercado, podemos resolver problemas locais, não por isso menos importantes. Nada mais certo, se o recurso vem de impostos. Ao Estado e aos legisladores cabe flexibilizar leis, e investir. Investir pesado. O momento mágico dos sapos virarem príncipes depende de olharmos todos um pouco mais para o futuro, e um pouco menos para o próprio umbigo.