No último dia 21, um eclipse total do sol foi observado por quase toda a área continental dos EUA. Esse eclipse foi previsto e anunciado por cientistas, e foi o mais noticiado e fotografado da história. Diferentes projetos engajaram cidadãos não cientistas para registrar imagens do fenômeno e enviá-las para os centros de astronomia do país. Foi um belo exemplo de como uma atividade lúdica para muitos – a observação de estrelas – contribui para gerar dados que podem ser usados por grupos de pesquisa para compreender melhor a natureza.
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Em diferentes partes do mundo, mas frequentemente nos EUA, astrônomos "amadores" contribuem com observações como essa para os diferentes órgãos governamentais que monitoram os céus. O que motiva tanto um astrônomo amador como um profissional a passar grande parte de seu tempo observando estrelas é uma mistura de profunda curiosidade sobre o universo e fascínio pela beleza dos objetos celestes. Mas nem todos os projetos focaram no céu durante o eclipse. O projeto Life Responds orientou quem quisesse submeter imagens do que diferentes animais faziam durante o eclipse, usando o aplicativo iNaturalist. Esse projeto foi desenvolvido por uma analista de programas chamada Elise Ricard, da Academia de Ciências da Califórnia. Ela observou, durante um eclipse na Austrália, em 2012, que os pássaros na praia pararam de cantar. Há várias histórias sobre comportamento alterado em animais durante eclipses – galinhas retornando para seus ninhos, lamas cercando pessoas, baleias e golfinhos vindo para a superfície. Pouco, contudo, se compreende ou se tem registrado de forma sistemática sobre o assunto, caracterizando essas observações ainda como mitos ou curiosidades.
Outro projeto, chamado Eclipse Soundscapes, visa registrar sons de animais em áreas urbanas ou rurais durante o eclipse, com aplicações potenciais para estudos antropológicos ou biológicos. Todos esses projetos visam principalmente atrair o não cientista, o leigo, e, fundamentalmente, as crianças. Fazer, dessa forma, com que a comunidade se interesse e entenda como é contribuir para melhor compreender a natureza, o mundo em que vivemos. E reafirmar, para os pequenos, que a curiosidade infinita deles é uma coisa boa, e não algo que incomoda; pelo contrário, ela deve ser acalentada e preservada durante sua vida adulta. Assim se constrói não apenas uma comunidade consciente e educada, mas um futuro no qual a cooperação entre indivíduos, cientistas e leigos, governo e cidadão, é a chave para um futuro melhor.
Obs. 1: ninguém sugeriu que o eclipse não aconteceria, ou que havia controvérsias, ou que isso não existia, como fazem com o aquecimento global. Algumas pessoas dão crédito aos cientistas apenas quando lhes convêm.
Obs. 2: projetos como os citados não são e nem nunca serão estimulados por um governo como o brasileiro, que cortou brutalmente o orçamento de ciência e tecnologia como nunca antes, vendeu a Amazônia e abandonou as universidades federais. É isso que queremos para as próximas gerações? Sem ciência, sem futuro. Acorde o cientista em você.