Faz uma semana que saímos de Atenas e percorremos um roteiro circular que passou pelas principais cidades da Grécia mitológica — Corinto, Náuplio, Epidauro, Tirinto, Micenas, Esparta, Olímpia e Delfos —, voltando finalmente à capital. Essas não são cidades comuns; todas têm alguma coisa — um templo, uma fonte, um mito, um herói — que nos toca de maneira especial. Como diz Kazantzakis, "o espírito habitou essas pedras da Grécia por tanto tempo que até hoje, não importa onde a pessoa vá, sempre vai descobrir as marcas de sua passagem".
E muito mais do que isso: na Grécia, não importa onde se vá, sempre surgirão marcas que a antiga língua grega deixou em nosso idioma, que é, podemos assim dizer, um dos netos daquela velha senhora. Em Olímpia, por exemplo, percorrendo o magnífico sítio arqueológico onde há quase três mil anos foram inaugurados os jogos olímpicos, nossa guia vai descrevendo as diferentes instalações oferecidas aos participantes das várias modalidades. "Aqui ficava o ginásio, onde os atletas, evidentemente, se exercitavam nus em pelo" — e para justificar o uso daquele advérbio, explicou que o vocábulo vem de gumnós, "nu", e que o fardamento obrigatório dos participantes era o mesmo que o pai Adão envergava no Paraíso.
O termo designava principalmente locais destinados tanto para a educação física quanto para a formação intelectual dos jovens rapazes, finalidades igualmente presentes nos dois significados que a palavra mantém até hoje no Português e em outras línguas românicas, "construção para as práticas esportivas" ou "os quatro anos que vinham depois da escola primária" — o que explica a diferença entre ginasta e ginasiano. Essa união tradicional do corpo com a mente, aliás, é a mesma que está presente no duplo emprego que fazemos no Brasil (mas não em Portugal) do vocábulo academia...
No majestoso teatro de Epidauro, com sua acústica perfeita, ouvimos a guia explicar a origem presumida do teatro — ou melhor, da tragédia, o gênero cultivado por excelência na Grécia antiga. Na sua origem, teria sido um ritual religioso ligado a Diónisos, consistindo inicialmente num canto coral dedicado ao deus; na sua evolução, o coro passa a dialogar com um ator, mais tarde ampliado para dois. No Grego antigo, ágon designava um confronto, um conflito, uma luta (daí o nosso agonia); agonista, até hoje, segundo Houaiss, é "o que luta, pela palavra ou ação". O ator principal, por isso, era o protagonista, enquanto o que debatia com ele era o antagonista...
No estreito de Corinto, enquanto eu admirava o fantástico canal que separa o Peloponeso do continente, transformando-o finalmente naquilo que seu nome anunciava há milênios (Peloponeso é, literalmente, "a ilha de Pélops), uma kombi, verdadeira relíquia, seja aqui ou na Grécia, chamou minha atenção: pintada num amarelo vivo, sua lateral ostentava, em grandes letras vermelhas, a palavra metaforiki (aqui na versão transliterada). Konstantina, nossa guia há 10 bons anos, traduziu na lata: transportadora!
Pois era uma caminhonete de mudanças, e só ali, como dizem minhas filhas, caiu a ficha: é daí que vem nossa metáfora! Assim que cheguei ao hotel, fui me desasnar no Google e a luz se fez: já Aristóteles, em sua Poética, definia a metáfora como "a transferência para uma coisa de um nome que designa outra, transporte de gênero para espécie ou de espécie para gênero ou de espécie para espécie". Embora os estudos modernos sobre essa figura de linguagem já constituam quase uma biblioteca à parte, com divisões e subdivisões infinitas, a kombizinha amarela me proporcionou, mais uma vez, este incomparável prazer que as palavras me trazem e que eu procuro compartilhar com o prezado leitor.