A bola da vez desta semana foi uma daquelas cansativas disputas midiáticas entre o presidente do Brasil e Greta Thunberg, a ativista-mirim que veio trazer a verdade para o mundo. Como se não tivesse mais o que fazer, nosso mandatário máximo chamou a mocinha de pirralha; a pequena notável, porém, que tem de topete o que não tem de estudo ou experiência, não se intimidou, matou a bola no peito e passou a usar a palavra ─ assim, em Português mesmo ─ na descrição oficial de seu perfil no Twitter. Como era de esperar, o mundo virtual entrou num daqueles seus frenesis diários, uns aplaudindo, outros condenando o termo escolhido, numa divisão de torcidas que, no fundo, como todos sabemos, nada tem a ver com a preocupação com nosso idioma. Esta coluna é a minha resposta aos leitores que vieram pedir minha opinião.
Nada se sabe sobre a origem de pirralho. Sabemos apenas que é palavra recente, surgida há cerca de século e meio, e que deve ser usada em contextos informais. Nos bons dicionários, seu significado é definido como "criança pequena; pessoa de baixa estatura". Alencar, relembrando seu tempo de escola, diz que marchava na frente da fila porque era "o mais pirralho da turma", e Machado de Assis, no seu Teoria do Medalhão, deixa isso ainda mais claro: "Há vinte e um anos, no dia 5 de agosto de 1854, vinhas tu à luz, um pirralho de nada, e estás homem, longos bigodes, alguns namoros...".
Não é no significado, portanto, que reside o problema, mas sim na intenção. Os manuais de retórica são unânimes: numa discussão nunca será de bom tom tachar o oponente de infantil, especialmente quando tratarmos com uma pessoa que ainda não se firmou como adulta. Palavras como criança, piá, guri, menino ou garoto não são ofensivas em si, como seriam pivete ou fedelho, mas podem passar a sê-lo se forem usadas com a intenção de rebaixar o status de meu debatedor.
Aliás, é bom lembrar que qualquer palavra "inocente como a flor" pode se transformar em tacape de guerra, especialmente nas discussões domésticas, onde um queridinha pronunciado na entonação e no momento certos pode agredir muito mais do que um palavrão cabeludo. Duvido que a reação de Greta fosse muito diferente se Bolsonaro tivesse dito que ela era uma criança, uma menininha, uma guriazinha, uma coisinha fofa, pois ele teria atingido da mesma forma o seu objetivo, que claramente era questionar a credibilidade das opiniões que ela divulga.
Um detalhe exterior ao Português veio colocar ainda mais gasolina na fogueira: alguém, lá fora, traduziu equivocadamente pirralha por brat, essa sim uma palavra assinalada em todos os bons dicionários do Inglês como pejorativa, pois nomeia uma criança mimada, impertinente, que se comporta mal e não tem educação ─ aquilo que nós chamaríamos aqui de pestinha ou de fedelha metida. Parece que Greta gostou; seus fãs e suas fãs é que reclamaram.