Tem gente que odeia, eu adoro: listas. A mais comentada dos últimos dias, pelo menos dentro da minha bolha, foi a dos cem melhores livros do século 21, publicada pelo New York Times no início de julho. O júri foi grande e representativo – não para avaliar toda a literatura mundial produzida no período, bem entendido, mas em relação ao que foi lançado no mercado norte-americano. Entre os 503 votantes, estavam escritores, críticos, bibliotecários, livreiros, editores e jornalistas. Cada um foi convidado a elencar os 10 melhores livros publicados, em inglês, desde janeiro de 2000. Valia tudo: ficção, não ficção, poesia, gibis.
Ninguém explicou, e nem adiantaria muito tentar explicar, qual o sentido da palavra “melhor”. Alguns votaram nos seus livros mais queridos, outros nos que provavelmente ainda serão lidos no final deste século. Para quem escolheu títulos de não ficção, a confusão é ainda maior. Alguns podem ter escolhido livros que trouxeram ideias boas e novas, matéria-prima sempre escassa no mercado, enquanto outros talvez tenham preferido lembrar das leituras mais prazerosas.
Se a dificuldade para padronizar critérios é o limite mais evidente de qualquer tipo de levantamento que envolve impressões subjetivas, o barato é mesmo discordar, apontar omissões imperdoáveis, comparar posições no ranking, questionar os mais votados, os votantes, a metodologia e a própria existência de listas. Se a lista perfeita é uma impossibilidade, o que vale é puxar conversa. Nesse caso, falar de livros: os bons, os excelentes, os esquecidos, os superestimados, os que a gente ainda não leu.
O escritor E. M. Forster dizia que o maior teste de um romance (assim como de uma amizade ou de qualquer outra grandeza difícil de mensurar) é produzir no leitor alguma espécie de vínculo afetivo. O título mais votado da enquete do New York Times, A Amiga Genial, de Elena Ferrante, é um desses livros pra mim. Gosto de imaginar que existe uma legião de leitores que foram atingidos pelo romance da mesma forma que eu. Uma legião de espíritos afins, espalhados por aí, com suas Lilas e Lenus recriadas a sua imagem e semelhança.
Queria dizer que considero a lista do New York Times uma espécie de bicampeonato. Em 2020, a revista Parêntese perguntou qual o título brasileiro mais importante do século, e o mais votado foi K., de Bernardo Kucinski, outro livro que considero um amigo do peito.