Se você já andou vasculhando o catálogo da Globoplay em busca de uma novela dos anos 1970 ou atravessou a madrugada dançando hits dos anos 1980 na Balonê (a festa do Bar Ocidente completa inacreditáveis 23 anos em 2024), se comprou um toca-discos novo para ouvir seus LPs antigos ou curte roupas que lembram o visual prafrentex da época em que seus pais eram magrinhos, bem-vindo ao clube. Termos como nostalgia, retrô, revival e vintage estão na moda – há pelo menos 60 anos.
Yesterday: A new history of nostalgia, do historiador cultural Tobias Becker, faz um balanço das leituras críticas mais importantes sobre o tema (de pensadores como Alvin Toffler, que popularizou a expressão “onda de nostalgia” em 1970, a Zygmunt Bauman, autor de Retropia, de 2017) e investiga as diferentes implicações do fenômeno na política, na cultura e na maneira como estudamos e preservamos o passado.
Becker começa analisando os diversos significados que a palavra adquiriu desde que foi cunhada pelo médico Johannes Hofer, no século 17, para nomear o que ele considerava uma patologia. Encampado pelos poetas, o sentimento nostálgico acabou sendo associado ao anseio por um lugar perdido. Foi apenas a partir do século 19 que o termo migrou para o sentido temporal (“oh, que saudades que tenho da aurora da minha vida”).
Nos dias de hoje, a palavra quase sempre é usada no sentido pejorativo, sustenta o autor. Na política, quando uma visão de mundo é considerada “nostálgica”, é imediatamente relacionada a algo fora do tempo, sem legitimidade – especialmente depois que o populismo de direita decidiu explorar o ressentimento daqueles que se veem deslocados na modernidade. Na cultura, o retorno a ideias do passado evoca estagnação criativa, decadência, marasmo – ainda que artistas de todas as épocas tenham olhado para trás em busca de inspiração. Talvez o passado já não esteja no passado, sugere Becker, mas faça parte do inesgotável manancial de referências com o qual convivemos em um presente hiperconectado – que o autor apelida de “pluritemporalidade”.
Não me considero uma pessoa especialmente nostálgica. A coisa mais parecida com nostalgia que eu sinto é a fantasia de poder voltar no tempo munida de todo o conhecimento adquirido até cinco minutos atrás. Nos momentos importantes, na hora de decidir entre isso ou aquilo, entre ficar ou partir, curtir ou encasquetar, a Supermulher do Futuro (eu mesma) viria até mim e sussurraria no meu ouvido: pense bem, pense melhor, não se distraia, viva direito esse momento. Para sua sorte (ou azar) ele não volta mais.