Tem gente que ama a própria voz acima de todos os outros sons. Você conhece o tipo. Quando essa pessoa está feliz, faz questão de descrever em detalhes seu nirvana particular. Se está pra baixo, desdobra cada fibra do sofrimento como se sua vida fosse um romance russo de 800 páginas. Se tem opiniões fortes sobre a crise no Oriente Médio, a violência no Rio, o novo disco dos Rolling Stones ou o jeito certo de assar batatas, seus interlocutores serão agraciados com uma aula magna sobre o assunto – tenham ou não encomendado a conferência. O que raramente ocorre a esse astro-rei é demonstrar interesse genuíno pelo que pensa, ou sente, quem está a sua volta.
O sujeito sem-noção que você acabou de imaginar (ou conhece) não é uma exceção. Em diferentes circunstâncias e gradações de absenteísmo, os desatentos somos eu, tu, eles – todos igualmente convencidos de que os autocentrados são os outros. Isso porque, em geral, somos ouvintes muito piores do que gostaríamos de imaginar. Quando oferecemos uma atenção preguiçosa ou formulamos perguntas protocolares para receber respostas automáticas, vazias, não estamos realmente escutando, e sim aguardando a primeira oportunidade para voltar a falar sobre nós mesmos e aquilo que nos interessa. Se tantas vezes é assim ao vivo, olho no olho, com pessoas de quem a gente até gosta, imaginem nas redes sociais, onde a gritaria é a etiqueta e reagir sem pensar é o esporte oficial.
O jornalista David Brooks, colunista e comentarista político do jornal The New York Times, decidiu mergulhar fundo no déficit de atenção que parece ter tomado conta das nossas interações – do bate-papo na esquina à política internacional. Brooks acaba de lançar o livro O Animal Social. Soa como título de livro de autoajuda, e não deixa de ser um pouco, mas é também uma reflexão moral sobre a perda de algumas habilidades sociais básicas e os possíveis efeitos dessa dificuldade em escutar o outro em um mundo cada vez mais plural e diverso.
Não é preciso ser um especialista no assunto para perceber que algumas pessoas conversam muito melhor do que outras. Brooks chama os bons ouvintes de “iluminadores” (illuminators) e os autocentrados de “inibidores” (diminishers). Enquanto os inibidores estereotipam, rotulam rápido e têm o poder de fazer o interlocutor se sentir insignificante ou invisível, iluminadores demonstram uma curiosidade genuína pelo outro, fazendo as perguntas certas e tentando entender, pelo menos em parte, seu ponto de vista. Conceder o benefício da nossa atenção plena não resolve todos os problemas, mas já é um bom começo.