Chama-se de “mitomania” (ou “pseudologia fantástica”) o transtorno que leva algumas pessoas a mentir de forma compulsiva. O termo ganhou popularidade nos últimos anos não porque ficamos todos um pouco mais cultos, mas porque mentir em grande escala tornou-se, além de projeto político, um ofício lucrativo.
Menos conhecida talvez seja a expressão “mitofobia”, que pode ser definida como a repulsa causada pelas narrativas dos mentirosos compulsivos. Quanto mais cretina, infundada ou desumana a farsa, mais chances de os mitófobos se sentirem angustiados e com sintomas de síndrome de pânico: ansiedade, taquicardia, vertigem, irritação. Vivemos uma pandemia de mitofobia aguda.
Como as teorias conspiratórias foram alçadas a principal ferramenta de marketing da extrema direita, histórias delirantes passaram a fazer parte da nossa dieta diária de desinformação: a pizzaria que servia de fachada para uma rede de pedofilia, o remédio milagroso que curava a covid de um dia para o outro, o chip do Bill Gates que vinha junto com as vacinas, a mamadeira de piroca, as fragilidades da urna eletrônica… A lista não tem fim. Não importa que a teoria absurda seja incansavelmente desmontada pelos fatos e pelo bom senso. Em geral, mentiras se fortalecem com a confusão que elas mesmas provocam no debate público.
Mas esse ciclo perverso pode estar começando a ser rompido.
Na semana passada, uma mentira desprezível, repetida à exaustão, foi finalmente desmascarada em Corte nos Estados Unidos. Nos últimos 10 anos, o comunicador de extrema direita Alex Jones espalhou teorias conspiratórias sobre o massacre da escola Sandy Hook, em Connecticut, através do site de fake news InfoWars. Jones sustentava a versão delirante de que a morte de 26 pessoas (entre elas, 20 crianças com idades entre seis e sete anos) era uma encenação montada pelo lobby antiarmas. Os pais que apareciam chorando a morte dos filhos não passavam de atores contratados – e as vítimas nem sequer existiam. Confrontado com as próprias mentiras e contradições, Jones foi obrigado a admitir diante do tribunal que o massacre foi “100% real”. Antes tarde do que mais tarde ainda.
E o que esse sujeito tem a ver com a gente? Infelizmente, tudo. Há tempos, a família Bolsonaro não esconde a admiração pelas ideias – e principalmente pelas táticas – de Alex Jones. (Admiração recíproca, aliás.) Além das teorias conspiratórias e do desprezo pelo sofrimento alheio, é possível que, no futuro, venham a compartilhar o mesmo destino: o banco dos réus.