Se há expectativa de que a tensão militar entre China e Taiwan comece a baixar, os riscos econômicos surgidos com a reação à visita da presidência da Câmara de Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha em disputa seguem no radar.
O primeiro está concretizado no anúncio da suspensão de toda cooperação da China — hoje maior emissor de gases de efeito estufa — com os EUA em temas de aquecimento global, além de outras áreas. Outro, apenas potencial mas com ameaça de efeito imediato, caso se concretize, é sobre o suprimento global de semicondutores.
O alerta feito pelo colega Rodrigo Lopes (leia clicando aqui) foi aprofundado por Tiago Hansen, economista e assessor de investimentos da Safe Investimentos, de Caxias do Sul, que ainda tem unidades em Santa Cruz do Sul, Porto Alegre e Chapecó (SC):
— Há um importante canal de suprimentos que poderia ser abalado, especialmente, no fluxo marítimo. Hoje, Taiwan é o principal produtor de semicondutores no mundo e isso impactaria diretamente no mercado global, especialmente na indústria de eletroeletrônicos e automobilística. A principal consequência seria um aumento de preços por falta de oferta, o que elevaria, novamente, a inflação, a patamares mais altos ainda.
Como se sabe, há escassez global de semicondutores, cuja normalização vem sendo adiada em cada semestre para o seguinte. Na semana passada, ao apresentar resultados recordes da Gerdau, o CEO Gustavo Werneck alertou que só há expectativa de melhora, nos EUA, para 2023.
Neste ano em que sanções econômicas foram usadas como armas de guerra, como no caso da Rússia, como punição pela invasão da Ucrânia, a China já adotou as suas em relação a Taiwan: suspendeu a compra de frutas cítricas e peixes da ilha que considera sua, embora 13 países reconheçam a autonomia do território. Mas até agora não estendeu qualquer medida restritiva à principal produção econômica, a de semicondutores.
Conforme relatório do Boston Consulting Group publicado no ano passado (clique aqui para ler o original, em inglês), Taiwan responde por nada menos de 92% da produção dos semicondutores mais avançados, com nós abaixo de 10 nanômetros (para simplificar, quanto menores, os circuitos são mais eficientes, porque podem fazer mais cálculos sem aquecer muito). Os outros 8% estão na Coreia do Sul. Ou seja, a princípio, não interessa à China adicionar problemas ao suprimento de chips, porque também seria afetada. Mas a importância que o país dá a seu lema "uma só China" não deve ser subestimada.