Não sei se a experiência é muito comum, mas lembro exatamente o momento em que me dei conta de que eu já era uma mulher adulta. Lembro inclusive do lugar em que o pensamento me ocorreu. Estava caminhando na Oswaldo Aranha, perto da Reitoria da UFRGS, em um dia de semana em nada excepcional, quando fui tomada pelo sentimento súbito da maturidade.
Aos 24 anos, eu morava sozinha, trabalhava e até já havia vivido fora do país, mas ainda me sentia como uma espécie de estagiária no mundo dos adultos. Como se os mais velhos tivessem acesso a algum tipo de sabedoria secreta que eu apenas intuía, mas não dominava. Até o dia em que, por algum motivo, entendi que aquela sensação de não estar pronta importava menos do que a liberdade para fazer escolhas e tomar decisões. Já era adulta, só não tinha me dado conta.
Para muitas pessoas, a vida adulta começa bem antes dos 24. A maturidade precoce pode estar ligada a responsabilidades assumidas desde cedo (trabalhar, cuidar dos irmãos, tomar conta de uma pessoa doente ou de um filho) ou a diferentes tipos de sofrimento que acabam abreviando o período da infância e da adolescência. O contrário também existe: o excesso de proteção, aquilo que os americanos chamam de “paternidade helicóptero” (pais e mães que costumam pairar sobre os filhos, tentando evitar que sofram qualquer tipo de dor ou frustração), pode levar a uma adolescência que se estende indefinidamente.
Há também um componente geracional para ser levado em conta. Na geração da minha mãe, uma mulher de 24 anos era uma senhora casada, talvez indo para o segundo filho. Para mim, a ideia de ser mãe nessa idade parecia quase tão remota quanto a aposentadoria (jovens costumam ter uma noção um pouco distorcida do tempo…). Quando finalmente decidi ter um filho, um lado de mim ainda se abismava com a perspectiva de ser responsável pela vida de outro ser humano. A sensação de que eu não era madura o suficiente para ser mãe me ocorreu várias vezes nos primeiros anos - principalmente quando observava a naturalidade com que as avós da minha filha desempenhavam tarefas que me pareciam tudo, menos naturais. (Bemaventuradas todas as mães que criam seus filhos com a ajuda das avós.)
Com o tempo, a gente percebe que a maturidade para ser mãe é como todas as outras: um trabalho em progresso. Ao contrário do que eu acreditava aos 24 anos, adultos nunca ficam totalmente prontos. Todos os dias, até o fim dos tempos, nos sentimos um pouco crianças, um pouco adolescentes, um pouco velhos. E essa é a beleza da coisa toda. Hoje, por exemplo, minha filha está completando 24 anos e eu estou aqui me perguntando, com algum atraso talvez, se já tenho maturidade suficiente para ser mãe de uma mulher adulta. Espero que sim, Pi, venho treinando há alguns anos.
A propósito: feliz aniversário, meu amor.