E aí, sumida?
Nesses dois anos, ainda não inventaram a carta que viaja no tempo, infelizmente, mas, dado o caráter excepcional do momento, achei que você (eu) merecia um alô do futuro próximo, onde eu (você) estou vivendo.
Sim, até aqui, sobrevivemos à pandemia – o que, considerando-se as circunstâncias, é uma ótima notícia. Em julho de 2020, você (eu) já está há quase quatro meses trancada em casa, então imagino (lembro) que sua maior angústia é saber quanto tempo vai demorar para a vida voltar ao normal. Tenho boas e más notícias. As más: em 2022, a covid continua fazendo vítimas (mais de 200 por dia no Brasil). Não deveria te contar quantas pessoas morreram desde o início da pandemia, para não te desanimar, mas qual o sentido de mandar uma carta para mim mesma se eu não for honesta? Respira aí que o número é assustador: foram mais de 670 mil mortes no país até agora, julho de 2022. Dá para imaginar? É quase a metade da população de Porto Alegre. No mundo todo, são mais de 6,3 milhões de vítimas da doença.
A boa notícia é que as vacinas vão começar a chegar por aí dentro de alguns meses (maio de 2021, para a nossa faixa etária). E o melhor de tudo: elas funcionam. Nessa semana, comecei a sentir uma dor de garganta e decidi fazer o teste. (Esta é outra boa novidade de 2022: os autotestes que a gente compra na farmácia para fazer em casa.) O resultado deu positivo, mas não fiquei muito assustada. Com duas vacinas e dois reforços, estamos bastante protegidas das complicações mais graves. A história teria sido bem diferente em julho de 2020.
Preciso te contar que, nesses dois anos, perdemos alguns amigos queridos. Talvez seja normal na nossa idade, mas normal não é consolo e não quer dizer nada. Normal é apenas aquilo que não é totalmente inesperado ou inédito. Para falar a verdade, o normal, às vezes, é muito injusto.
Normais, normais, as coisas ainda não estão, mas, em 2022, as pessoas já voltaram a sair de casa e a viajar, tanto que os aeroportos estão uma bagunça no mundo todo, principalmente aqui nos Estados Unidos, onde estou morando. Ah, sim, esqueci de te contar: eu (você) estou morando em Nova York há um ano e meio. Sim, eu sei, em julho de 2020, você (eu) nem cogitava mudar de país, mas ficar separada da filha por uma pandemia e um oceano acabou precipitando as coisas. Não vou dar detalhes, mas posso adiantar que foi uma ótima ideia. (Lembre-se de agradecer à Cláudia de 2021 pela decisão, se cruzar com ela.)
Bom, não quero estragar muito as surpresas boas nem te assustar demais com notícias ruins, por isso vou ficando por aqui. Te cuida, cuida de quem estiver em volta e também de quem estiver longe, se possível. A vida não vai ficar mais fácil nos próximos anos – nunca fica – e a única coisa que alivia essa barra toda é cuidarmos uns dos outros do jeito que dá. Se a Cláudia de 2023 me escrever com boas notícias, te aviso em seguida. Estou (estamos), como sempre, otimistas.