Foi mais ou menos como se a Coca-Cola tivesse mudado de nome e anunciado que o carro-chefe dos seus negócios, a partir de agora, não seria mais o refrigerante, mas uma pastilha preta que mata sede – e, no futuro (se tudo sair como eles estão planejando), vai vender como água.
A partir do dia 1° de dezembro, a empresa que controla a rede social Facebook (além do Instagram e do WhatsApp, entre outros negócios) passa a se chamar Meta. Outras empresas já mudaram de nome antes, mas, no caso do Facebook, não se trata apenas de se livrar de parte dos problemas e distrair a audiência em meio a vazamentos de documentos comprometedores e outras denúncias, mas de projetar um determinado tipo de futuro. Mark Zuckerberg aposta que, em breve, boa parte da nossa vida virtual estará instalada no “metaverso”, uma espécie de realidade aumentada imersiva em que as pessoas não apenas consomem conteúdo, mas interagem de diferentes formas (como avatares, se for o caso, mas também trocando moedas, mercadorias, serviços e sabe-se lá mais o quê).
Apostar para que lado sopra o vento da tecnologia e dos hábitos de consumo é o arroz-com-feijão de empresas como o Facebook desde antes de se tornarem megacorporações. Não me preocupa tanto o fato de eu não entender muito bem para que serve o metaverso ou saber se vou estar interessada em fazer parte desse futuro além da (minha) imaginação. O que até macróbios da Geração X como eu já entenderam é que a concentração de poder na mão das grandes empresas de tecnologia, sem algum tipo de regulação que proteja os dados pessoais dos usuários, combata a desinformação e preserve a diversidade do mercado, não é um bom negócio – pra nós. Enquanto o Facebook crava sua bandeirinha no metaverso, podemos apenas torcer para que esse futuro (e todos os outros imaginados) contemple o bem-estar de pessoas que se relacionam, ganham a vida, moram – e votam – no mundo real.
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Para entender como surgiram as grandes empresas de tecnologia (agora também conhecidas como “uns anjos tronchos do Vale do Silício”), como esmagaram a concorrência e como mudaram o mundo, nem sempre para melhor, nas últimas décadas, a dica é ouvir o podcast (em inglês) Land of the Giants. A série jornalística sobre as “big techs” já abordou Amazon, Netflix, Google e os aplicativos de delivery. A quinta temporada, que estreou em setembro, é sobre a Apple. Imperdível.