Esta segunda-feira (6) é Labor Day nos Estados Unidos. Comemorado na primeira segunda-feira de setembro, o feriado do Dia do Trabalho marca o fim não oficial das férias de verão por aqui – mais ou menos como uma segunda-feira de março, depois do Carnaval. Terça-feira (7), a folga é no Brasil. E entre esses dois feriados nacionais, como em uma espécie de meia-noite imaginária congelada em um relógio subjetivo, encontra-se uma brasileira que mora em Nova York há seis meses – mas não de corpo inteiro.
Feriado, pra mim, é um dia como qualquer outro. Trabalho há mais de dois anos em casa, obedecendo a uma rotina que eu mesma determino, controlo e desobedeço. Mas feriados não afetam apenas quem tem horários e compromissos inadiáveis. Tudo em volta fica diferente, e os sem-patrão entram na onda – por hábito ou solidariedade. Feriado pede sono espichado de manhã, almoço no capricho, caminhada, cinema, namoro. Meu problema é decidir se vou respeitar os protocolos de folga acompanhando o ritmo do lugar onde eu moro ou o do país de onde venho.
Em 1986, quando passei uma temporada em San Francisco, na Califórnia, o Brasil era mais longe. Nem que eu quisesse conseguiria me manter bem-informada sobre tudo o que acontecia em casa – e, aos 20 anos, vamos ser honestos, eu nem queria tanto. Calhou também de ser o ano do Plano Cruzado, que ninguém entendia direito como iria funcionar – nem eu nem quem morava no Brasil. À medida que o tempo passava, as novidades ficavam mais difíceis de acompanhar. Como assim “preços congelados”, Xuxa, RPM, Cambalacho, dengue? A falta que faz um Google.
Nesta segunda temporada de exílio voluntário, difícil é desligar do Brasil. Não apenas porque acordo de manhã lendo os jornais brasileiros, janto ouvindo as notícias no Jornal Nacional e converso com os amigos todos os dias sem me preocupar com a conta do telefone, mas porque o país exige atenção. Infelizmente, não como um artista no palco ou uma pessoa muito bonita que passa ao seu lado na rua. Nem mesmo como uma criança mimada que faz birra no supermercado. Em 2021, e mais do que nunca neste 7 de Setembro, o Brasil é como um suicida parado sobre o parapeito de um edifício. Ameaça real ou blefe, é simplesmente impossível desviar o olhar.