A diferença entre um relacionamento ruim e um relacionamento abusivo reside, em boa parte, no equilíbrio de forças. Quando um lado tem a prerrogativa de controlar, manipular, subjugar ou mesmo ameaçar a integridade física do outro, a fronteira entre desentendimentos aceitáveis e abuso já foi ultrapassada.
Relacionamentos abusivos sempre existiram, mas a popularização do termo é recente (menos de 10 anos) e está ligada aos avanços do feminismo e ao que hoje se considera tolerável ou não. O termo “abusivo” é delimitado pela época e pela cultura: o que para a geração da minha mãe podia ser considerado corriqueiro (o marido tomar decisões sem ouvir a mulher, por exemplo), para a geração da minha filha é uma atitude inadmissível – portanto, abusiva.
A solução para os relacionamentos abusivos são basicamente duas: reconhecer que se está em um e traçar um plano para escapar. Nenhuma das duas atitudes é simples, mas sem admitir o problema, corre-se o risco de ver os abusos escalando em violência até o ponto de não retorno. Não importa o que um abusador promete ou o que os que gostam dele se esforçam para acreditar, as chances de ele se emendar são remotas, e a melhor saída é a porta da rua.
Você pode não ter se dado conta, mas, como eu, está vivendo um relacionamento abusivo. Casado, solteiro ou até jovem demais para se casar, você está submetido a um presidente que afeta seu equilíbrio psicológico, suas finanças e até sua saúde. Como um abusador típico, esse homem faz ameaças e se descontrola com facilidade. Não demonstra empatia por quem quer que seja e nem mesmo a morte o comove ou extrai dele algum gesto de compaixão. Sua linguagem é violenta, vulgar – e, ultimamente, onipresente.
Acuado, o abusador compulsivo recorre a dois dos seus principais talentos: mentir e ameaçar. Sua presença nos noticiários tornou-se tão opressiva nos últimos dias que todos os problemas parecem encolher diante da necessidade urgente de tirá-lo de casa antes que o pior aconteça. Se é que já não aconteceu.