Venho acumulando provisões para enfrentar algum tipo de distanciamento social compulsório há pelo menos 50 anos. Os livros nunca lidos, os filmes e séries para ver antes de morrer (não literalmente, por favor), os idiomas para aperfeiçoar, tudo isso estava prontinho, em uma gaveta mental, aguardando que a oportunidade de isolamento obrigatório se impusesse. Então. Como não estou presa, exilada ou escondida em um bunker subterrâneo esperando a poeira nuclear baixar, posso compartilhar com vocês alguns dos meus passatempos domésticos durante esta quarentena. A eles.
Séries:
Quem costumava dizer que precisaria de cinco vidas para assistir a todas as séries que os amigos recomendam está diante da oportunidade ideal. Se você ainda não assistiu Família Soprano (HBO), Breaking Bad (Netflix), Mad Men (Netflix) ou The Wire (HBO), a hora é agora. Entre as novidades, estou investindo em The Plot Against America (HBO), adaptação do romance de Philip Roth, e na segunda temporada de My Brilliant Friend (HBO), baseada em Elena Ferrante. Vou dar uma chance também para Freud (Netflix). Parece uma boa hora para colocar nossas neuroses cotidianas em perspectiva.
Filmes:
Se você, como eu, costuma ter alguma dificuldade para achar filmes interessantes nos serviços de streaming tradicionais, o Mubi (mubi.com) é uma boa opção. Com filmes antigos de grandes diretores e títulos recentes de várias partes do mundo, o catálogo é pequeno (entram e saem filmes todos os dias), mas cumpridor. Como outras plataformas, o Mubi está com uma promoção barbadinha: R$ 10 por três meses. Para quem curte documentários, a dica é aproveitar a mostra online do festival É Tudo Verdade.
Aulas:
Muitas pessoas estão tendo aulas on-line pela primeira vez, mas o mundo da educação à distância é um maravilhoso universo em expansão. De palestras do TED (ted.com) a cursos abertos de Yale (oyc.yale.edu) as opções são infinitas. Na plataforma gratuita EdX (edx.org), estão à disposição mais de 2 mil cursos online em vários idiomas, inclusive português.
Livros:
Aqui vale a regra do "se não agora, quando?". Tire a poeira daquele Em Busca do Tempo Perdido guardado na estante, procure seu Guerra e Paz, atire-se em Grande Sertão: Veredas antes que vire filme (uma versão com roteiro de Jorge Furtado está em produção). Muitas livrarias estão com serviços de tele-entrega. Meu clássico vale-quanto-pesa do momento é O Homem sem Qualidades, de Robert Musil. (Que livro, senhores. Incluam na lista dos clássicos obrigatórios, com ou sem quarentena.) As novidades na minha cabeceira esta semana são Metrópole à Beira-mar, de Ruy Castro, que curiosamente começa narrando os efeitos da gripe de 1918 no Brasil, e Apropos of Nothing, de Woody Allen, que acaba de ser lançado nos EUA e já está disponível na Amazon. Além de bater o recorde mundial de tiradas divertidas por página, Woody Allen pode ter inventado um novo gênero literário: o "audiobook mental". O tipo de livro que não se consegue ler sem que a voz e a entonação característica do autor/personagem façam parte da história.