Três títulos curtos, três países diferentes, três fábulas realistas sobre desigualdade social e violência extrema. Em 2019, Coringa (EUA), Bacurau (Brasil) e Parasita (Coreia do Sul) extrapolaram os comentários estritamente cinematográficos e acabaram provocando discussões vigorosas nas redes sociais, nos jornais, nas mesas de bar.
As reações a cada um desses filmes oscilaram dos elogios mais entusiasmados ao desprezo mais profundo – com eventuais escalas no pouco povoado terreno da ponderação. Mas o ponto aqui não é discutir os acertos ou equívocos, políticos ou estéticos, de cada um dos três diretores (ou das torcidas organizadas que foram capazes de mobilizar em torno dos seus filmes) e sim comemorar o fato de três obras de arte terem pautado o debate público em algum momento. No Brasil. Em 2019.
Em uma chave menos política e mais intimista, o filme História de um Casamento, disponível na Netflix há pouco mais de uma semana, também vem tendo um impacto significativo na sensibilidade coletiva. Ao mostrar todas as estações do inferno de uma separação (advogados, disputa pelo filho, mudança de casa...), a história de Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver) é atemporal e extremamente contemporânea ao mesmo tempo. Qualquer pessoa que já tentou manter o equilíbrio, e principalmente os princípios, em meio a algum tipo de naufrágio existencial irá se reconhecer no drama dos personagens. Mesmo que nunca tenha enfrentado uma separação – ou um casamento.
Diante de uma oferta aparentemente ilimitada de conteúdos e de plataformas e da crescente dispersão de interesses em nichos cada vez mais específicos, raras são as obras de arte que se destacam não pelo tom espetaculoso (como os filmes de super-heróis) ou pelo esforço de reafirmar o gosto médio (quase todo o resto), mas pela capacidade de desacomodar o público e de tocar em temas que estão à flor da pele. Goste-se ou não dos resultados alcançados, Coringa, Bacurau, Parasita, e talvez História de um Casamento, chamaram a atenção porque, de alguma forma, são o retrato da sensibilidade e das angústias de uma época: a nossa.