Acho que entendi por que o novo presidente da Funarte está tão preocupado com a corrupção de costumes representada pelo rock – gênero musical que, em 2019, interessa a pouca gente com menos de 40 anos de idade: pela primeira vez, há mais velhos do que crianças no planeta.
Segundo a teoria conspiratória difundida pelo maestro Dante Mantovani em seu canal no YouTube, essa legião de pessoas que ouviu Beatles na juventude sofreu uma lavagem cerebral comandada por agentes da União Soviética infiltrados nos Estados Unidos, sendo responsável pelo apocalipse cultural que desembocou nas drogas, no aborto e no satanismo. (Se não serve para mais nada, a tese parece comprovar uma das mais populares teorias de Einstein: “Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana”.)
Voltando aos velhos. Calcula-se que o número de adultos com mais de 65 anos tenha superado o de crianças com menos de cinco no final de 2018. No Brasil, a população com mais de 65 anos cresceu 26% desde 2012, enquanto a faixa com menos de 13 recuou em 6%. No Japão já são mais de 70 mil pessoas com mais de 100 anos.
Uma das consequências mais imediatas desse fenômeno, batizado de “Silver Tsunami” (“tsunami prateado”), é o boom editorial de livros que abordam o tema do envelhecimento sob diferentes aspectos. Nunca tantas pessoas estiveram interessadas em saber o que esperar da velhice e em se preparar para chegar lá com saúde, disposição e algum dinheiro no bolso. Além da ficção, há toda uma literatura que poderia ser definida como “autoajuda para a terceira idade”. São livros que questionam a obsessão com a eterna juventude da nossa época ao mesmo tempo em que defendem a ideia de que a velhice pode ser uma etapa de plenitude, liberdade e autoconhecimento.
Em um texto publicado na revista New Yorker há alguns dias (“Why we can’t tell the truth about aging”), o ensaísta Arthur Krystal, de 71 anos, faz um excelente balanço da literatura disponível sobre o assunto, dos clássicos aos títulos mais recentes, e propõe uma visão mais realista do processo de envelhecimento, ainda que não necessariamente pessimista. Sim, algumas pessoas ficam mais sábias com a idade, mas nem todas. E nem mesmo a sabedoria é garantia de felicidade. A velhice, afinal, não é tão diferente de todas as outras fases da vida. É apenas a última.