As mulheres fizeram história nas eleições americanas da última terça-feira (6). Nunca tantas disputaram uma vaga no Congresso (273 se candidataram em 2018, 143 em 2008) nem tantas se elegeram. Várias abriram novos capítulos na política americana. Rashida Tlaib e Ilhan Omar tornaram-se as duas primeiras muçulmanas a serem eleitas para o Congresso. Deb Haaland e Sharice Davids foram as primeiras americanas nativas a chegarem lá.
O maior símbolo dessa renovação é a líder comunitária de origem porto-riquenha Alexandria Ocasio-Cortez, que também fez história ao tornar-se, aos 29 anos, a mais jovem mulher a ser eleita para o Congresso. Uma vitória que começou a ser construída meses atrás, quando Alexandria desbancou um político experiente nas eleições primárias do Partido Democrata – contra todas as previsões em contrário. Com pouco dinheiro e muita disposição, ela fez um trabalho de formiguinha, pedindo votos de porta em porta e oferecendo, em troca, aquilo que seu oponente não tinha para dar: proximidade dos seus eleitores (em sua maioria negros e latinos) e sensibilidade para os seus problemas.
Lá, como aqui, as mulheres ainda são subrepresentadas na política. A boa notícia é que estudos indicam que quanto mais mulheres aparecem na arena política maior é o número das que se sentem inspiradas a seguir o mesmo caminho nas eleições seguintes. Além da mudança de cultura que pode estar em curso, é preciso levar em conta que Donald Trump é o tipo de político que empurra pessoas comuns para o ativismo. Movidas por raiva, frustração ou simplesmente idealismo, muitas americanas que desprezam o atual presidente foram buscar vingança no lugar certo: as urnas.
A rápida ascensão de uma jovem liderança como Alexandria Ocasio-Cortez mostra um caminho possível para que a democracia representativa recupere o status que vem perdendo nos últimos anos. Por um lado, ela simboliza o tipo de político que gasta sola de sapato para conhecer seus eleitores e ser conhecida por eles – ao invés de acomodar-se nos conchavos de gabinete que costumam dar origem àquele tipo de criatura subterrânea, sem espírito público ou princípios, que dá péssima fama à classe política. Por outro, sendo mulher, jovem e latina, enriquece e renova o debate público representando eleitores que se parecem com ela.
É difícil comprar a ideia de que um Congresso composto majoritariamente por homens brancos, heterossexuais e de meia-idade representa os interesses de um país inteiro. No caso dos governantes, a diversidade de uma equipe espelha a mentalidade do líder eleito. Quando o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, montou o primeiro gabinete de ministros com igualdade de gênero, formado por 15 homens e 15 mulheres, em 2015, não apenas mandava uma mensagem para o mundo sobre os valores do seu país, mas garantia uma interlocução mais rica e complexa dentro de sua equipe. O líder inteligente valoriza e se beneficia da diversidade. O de poucas luzes nem percebe que ela existe.