O controle do Congresso norte-anericano estará dividido no próximo ano, após as eleições de meio de mandato realizadas na terça-feira 6), nas quais a oposição democrata conquistou a Câmara de Representantes e o partido Republicano, do presidente Donald Trump, manteve o Senado.
Surfando na indignação contra Trump e na promessa de proteger a cobertura da saúde, mas sem transformar em "onda" o movimento de contestação, os democratas tomaram dos republicanos as 23 cadeiras necessárias para ter a maioria na Câmara de Representantes, ao vencer em Estados-chave como Virgínia, Flórida, Pensilvânia e Colorado, de acordo com projeções das redes de televisão Fox e NBC.
Já os republicanos consolidaram sua posição no Senado arrebatando cadeiras em ao menos dois estados — Indiana e Dakota do Norte — e mantendo as atuais no Tennessee e Texas, que estavam sob ameaça.
Os democratas conseguiram arrebatar dos republicanos as duas primeiras cadeiras na Câmara vencendo nos Estados da Virgínia e Flórida, em uma votação marcada por um número significativo de mulheres, jovens e candidatos de minorias étnicas e sexuais.
Fazendo história
O democrata Jared Polis se tornou o primeiro homem abertamente homossexual a governar um estado dos EUA — o Colorado — ao derrotar o republicano Walker Stapleton. Polis, 43 anos, que não escondeu sua orientação sexual durante a campanha, substituirá o governador democrata John Hickenlooper, que dirige o estado desde 2011.
A jovem estrela dos democratas Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha e nascida no Bronx, em Nova York, se tornou a mulher mais jovem eleita para o Congresso, aos 29 anos. Ocasio-Cortez, que defende com orgulho suas raízes e sua latinidade, e promete ser uma campeã da classe trabalhadora na qual tem origem, manteve a cadeira em uma circunscrição claramente democrata, após derrotar nas primárias o veterano Joe Crowley.
Agora esta latina, que se define como socialista, se transforma em um símbolo de uma onda de mulheres democratas pertencentes a minorias que estão revolucionando a elite do partido.
No Kansas, a democrata Sharice Davids se converteu na primeira mulher indígena americana a chegar ao Congresso. Davids, uma advogada de 38 anos ex-lutadora de artes marciais e homossexual declarada, derrotou o atual representante republicano do Estado, Kevin Yoder.
As democratas Ilhan Omar e Rashida Tlaib se tornaram as duas primeiras muçulmanas eleitas para o Congresso de Estados Unidos, pelos Estados de Minnesota e Michigan, respectivamente. Ilhan Omar, uma refugiada somali, escreveu no Twitter para Rashida Tlaib, nascida em Detroit de pais palestinos: "Não posse esperar para compartilhar uma bancada com você". As duas defendiam cadeiras em tradicionais feudos democratas.
Em Vermont, Christine Hallquist, ex-presidente de uma companhia de energia, fracassou em sua tentativa de se tornar a primeira governadora transgênero dos Estados Unidos, ao ser derrotada pelo atual governador, o republicano, Phil Scott.
A democrata Hallquist, uma avó de 62 anos e sobrevivente de um câncer, entrou na política para promover a "onda azul" contra Trump, que tem sido um obstáculo aos direitos das pessoas transgênero.
Prova de fogo para Trump
Nestas eleições estavam em jogo 435 assentos da Câmara de Representantes, 35 cadeiras do Senado, 36 governos de Estados americanos, além de vários cargos locais, como prefeitos, juízes e xerifes.
A votação de meio de mandato era considerada o primeiro teste para o governo Trump, pois se apresenta como um referendo sobre o presidente em um país muito dividido.
As redes de televisão mostraram longas filas de pessoas esperando para votar, em uma eleição cujo grande interesse foi revelado pelos 38 milhões de votos antecipados nos Estados que permitem essa modalidade, 40% a mais do que nas eleições de meio de mandato de 2014.
O nome de Trump não apareceu nas cédulas de votação, mas ele deixou claro que era um referendo sobre a sua presidência, que até agora contava com a maioria republicana nas duas Câmaras.
— O tema central das eleições é Trump, Trump, Trump — resumiu Cliff Young, do Instituto Ipsos dos Estados Unidos.
Consciente dos riscos, Trump organizou comícios até o último momento da campanha. Para os democratas, esta é uma oportunidade de frear o poder de um presidente que acusam de provocações racistas e de atiçar as divisões na sociedade para ganhar votos.