Os Estados Unidos votam nesta terça-feira (6) nas eleições de meio mandato em um país muito dividido, que vê na votação um referendo sobre a presidência de Donald Trump, dois anos após sua vitória. O nome de Trump não aparece nas cédulas de votação, mas há semanas ele tem reiterado que essa eleição se trata de um referendo sobre a sua presidência.
— Quero enviar uma mensagem para dizer que eu não concordo com o caminho escolhido pelo presidente — declarou em Chicago Rory Mabin, uma democrata de 34 anos.
Diante do risco de que um avanço dos democratas no Congresso atrapalhe seu programa de governo, Trump empreendeu neste final de campanha uma maratona por três estados, que terminou com um encontro em Cape Girardeau, no Missouri, onde ele afirmou que "a agenda republicana é o sonho americano".
— A segurança e a prosperidade estão em jogo nesta eleição — afirmou neste último ato, acompanhado de sua filha Ivanka.
A campanha foi marcada por violentos acontecimentos: o envio de pacotes com explosivos a importantes líderes opositores e o massacre em uma sinagoga em Pittsburgh, onde 11 pessoas morreram. A polarização da sociedade chegou a patamares nunca vistos e, quando o presidente foi prestar homenagem às vítimas, uma manifestação com cerca de 1.000 pessoas foi a seu encontro.
"A melhor economia da história"
Para os democratas, esta é uma oportunidade de frear o poder de um presidente que acusam de provocações racistas e de atiçar as divisões na sociedade para ganhar votos.
Há quase dois anos no governo desde a sua surpreendente vitória em 2016, o caótico e imprevisível Trump tem contado com as duas câmaras, mas nesta eleição de meio mandato o equilíbrio de poderes no Congresso pode mudar.
Em uma reportagem transmitida nesta segunda-feira (5) pela Fox News, Trump disse que os Estados Unidos "têm a melhor economia de sua história e que a esperança finalmente voltou às cidades" do país.
Nessas eleições estão em jogo 435 assentos da Câmara de Representantes, 35 cadeiras do Senado, 36 governos de estados americanos, além de vários cargos locais, como prefeitos, juízes e xerifes.
Nas primeiras eleições de meio mandato, os presidentes costumam perder espaço no Congresso, mas Trump, que durante seu governo levou o desemprego a um mínimo de 3,7%, pode romper este precedente.
Para consternação de muitos de seus correligionários republicanos, na última semana Trump - em vez de destacar suas conquistas - preferiu se concentrar em um duro discurso - que alguns classificam de racista - no qual denunciou a imigração ilegal como uma "invasão".
Dias antes da votação, Trump enviou mais de 4.800 efetivos à fronteira com o México e sugeriu que caso os migrantes centro-americanos que marchavam em caravanas para os Estados Unidos atirassem pedras nos agentes, eles poderiam responder com tiros. Depois o presidente se retratou.
Facebook bloqueia 30 contas
A grande incógnita, que será determinante para os resultados, será a participação, que nas eleições de meio mandato costuma ser baixa. Em 2014, ela foi de 41,9%.
Um indício do interesse gerado por essas eleições é que mais de 30 milhões de votos antecipados já haviam sido emitidos nos estados que permitem esta modalidade, em comparação aos 22 milhões da votação de quatro anos atrás.
— Essas eleições podem ser as mais importantes de nossas vidas — disse o ex-presidente democrata Barack Obama, que durante o final de semana fez campanha em Indiana.
Em meio à expectativa, as agências de inteligência e segurança emitiram um alerta diante da ameaça de ingerências externas, assegurando que até agora não havia nenhum indício de que a infraestrutura eleitoral tenha sido comprometida.
A vigilância é máxima. A rede social Facebook anunciou na noite de segunda-feira (5) que bloqueou cerca de 30 contas em sua plataforma e outras 85 na rede Instagram por preocupações de que pudessem estar vinculadas a entidades estrangeiras e destinadas a interferir nas eleições.
Como o eleitorado latino se comporta?
Essas eleições também marcam a estreia de novos rostos que chegaram como grandes promessas no cenário político. Uma delas é a nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez, que depois de se impor surpreendentemente nas primárias democratas em setembro no distrito do Bronx e do Queens, agora se encaminha para tornar-se a mulher mais jovem a ser eleita para a Câmara de Representantes.
Quando ela derrotou o veterano Joe Crowley, a jovem de origem porto-riquenha deixou todos boquiabertos. Agora esta latina, que se define como socialista, se transformou no símbolo de uma onda de mulheres democratas pertencentes a minorias que estão revolucionando a elite do partido.
Nessas eleições, a comunidade latina, que constitui a maior minoria do país, com 59 milhões de pessoas, poderá bater recordes de representação.
A dúvida é como esse voto, de cerca de 29 milhões de pessoas, se comporta diante da retórica contra a imigração de Trump. Nas eleições de 2016, ele foi apoiado por 30% do eleitorado latino.