O meme que melhor resume o clima de 2018, no Brasil e no mundo, é aquele em que o pai do Cebolinha aparece correndo de um lado para o outro, alarmado, perguntando: “O que está acontecendo? O que está acontecendo?”. Ao que um Cascão, não menos perdido e apavorado, responde: “Eu não sei! Eu não sei!”.
Se você anda se sentindo como o Seu Cebola nos últimos tempos, bem-vindo ao clube. A boa notícia é que o novo livro do autor de Sapiens, o historiador israelense Yuval Noah Harari, lança luz sobre algumas das principais angústias contemporâneas: a disrupção tecnológica, o colapso ecológico, as ameaças à democracia... Para quem ainda não leu 21 Lições para o Século 21 (Cia. das Letras, 432 páginas, R$ 54,90), selecionei cinco insights do autor que vão dar vontade de 1) ler o livro e 2) ouvir rock brasileiro dos anos 1980 (só para lembrar o tempo em que você era jovem e distraído demais para andar se preocupando com o futuro da humanidade).
1) Ideologia: eu quero uma pra viver
Fascismo, comunismo e democracia liberal disputaram corações e mentes no século 20. A II Guerra Mundial interrompeu a ascensão do fascismo. A queda do Muro de Berlim marcou a falência do projeto comunista. Em 2018, Trump e Brexit representam a crise de confiança nos valores das democracias liberais. Eleitores de duas das maiores potências do mundo deixaram claro que estão mais interessados em construir muros para se proteger dos vizinhos do que em propor soluções (boas ou ruins) para os problemas globais.
2) Maior abandonado
Diante do vazio gerado pela crise dos valores democráticos do liberalismo e das incertezas sobre o futuro, muita gente chegou à conclusão de que bom mesmo era o passado — por mais ilusória que seja essa nostalgia. Uma América “grande novamente”, uma Grã-Bretanha como potência independente, uma Rússia como a dos tempos dos czares, um Brasil sem democracia...
3) A gente somos inútil
No século 20, trabalhadores lutavam para conquistar mais direitos porque sabiam que eram essenciais para fazer a economia funcionar. O desafio agora é encontrar lugar em uma economia que depende cada vez menos de gente e cada vez mais de tecnologia. É muito mais difícil lutar contra a irrelevância do que contra a exploração.
4) Burro, muito burro demais
Nenhuma pessoa sabe tanto quanto pensa que sabe. A abundância de informações, de boa e má qualidade, nos lançou em uma espécie de “ilusão de conhecimento”. Quem está genuinamente interessado em se aproximar da verdade (o que é uma ótima providência em ano de eleição...) deve se esforçar para ouvir diferentes vozes. E nunca esquecer da lição de Sócrates: reconhecer a própria ignorância é o primeiro passo para começar a aprender.
5) Pro Dia Nascer Feliz
Da mesma forma que as grandes mudanças geradas pela Revolução Industrial deram origem às novas ideologias do século 20, as revoluções na tecnologia da informação e na biotecnologia vão exigir mudanças na forma como nos organizamos – ou tentamos nos organizar. Com a palavra, o autor: “Talvez tenha chegado o momento de romper com o passado e elaborar um relato completamente novo que vá além dos antigos deuses e das antigas nações, sem perder a essência de valores modernos como a liberdade e a igualdade”.