Tem o rico estilo toscão – o cara que chegou ontem, e com fome, à ala VIP do destino. Para espantar o fantasma da pindaíba, faz questão de ostentar sinais externos de riqueza: carrão, roupas de grife, joias graúdas. Sua mansão, comprada à vista de um ricaço que empobreceu ou foi parar na prisão por sonegação de impostos, é cheia de espelhos (ele se ama) e de “parças” (eles o amam).
Tem o rico com ambição de status. Esse também não nasceu em berço de ouro, mas corre atrás do prejuízo. Não quer fazer feio no clube dos ricos mais antigos sendo confundido com o tipo de milionário deslumbrado que não sabe usar os talheres e tropeça no idioma. Busca estudar, ler, se informar. Ou contrata alguém que o ajude a escolher suas roupas, seus móveis e seu bom gosto – até encontrar o próprio.
Tem o rico vulgar por inclinação (e deformação) de caráter. Esse já nasceu com poupança na Suíça, mas nunca se interessou em ampliar seus horizontes para além da sua sacada em estilo neoclássico — cercado por puxa-sacos desde criancinha, cresceu acreditando que, por osmose, já sabia tudo que havia para saber. É o tipo “rei do camarote”: prefere ostentar um determinado estilo de vida do que bens — embora, por capricho, seja capaz de instalar um carro de luxo no meio da sala apenas para deixar claro que é ele quem inventa as regras do seu bom gosto. Mais do que ser admirado pelo tino para os negócios ou invejado pelo que possui, gosta de ser paparicado. Depois de algum tempo, a fortuna e suas regalias já não são suficientes para motivá-lo. Como um menino mimado que nunca se contenta com o que tem, ele sonha em ser famoso na TV ou ser eleito presidente dos Estados Unidos. (Se possível, as duas coisas.) Mas mesmo quando está confortavelmente instalado no topo do mundo, nunca perde a cara de menino mimado que levou um drible do moleque bom de bola da vizinhança.
Tem o rico com espírito público, e esse é o que a gente gostaria de clonar e espalhar pelo mundo — principalmente pelos países emergentes, onde eles são mais raros. O rico com espírito público não acha graça em ostentar o que conquistou ou sempre teve nem em ser paparicado apenas porque tem dinheiro. (Nenhum adulto, rico ou pobre, deveria depender tanto da admiração ou da inveja alheia.) O que esse tipo de rico quer é fazer diferença — seja compartilhando conhecimento, seja investindo em projetos em que acredita. O rico com espírito público é o que investe em cultura, educação, ciência e em tudo aquilo que tem potencial para diminuir a desigualdade no país e no mundo. Ele sabe que é um desperdício perder gente talentosa para a miséria ou para a falta de oportunidades. Rico inteligente não gosta de desperdício — nem de dinheiro, nem de talentos. O rico com alma republicana é tão generoso que, pelas causas que defende, é capaz de sentar-se à mesa para negociar com políticos e fracos de espírito em geral. Pobre coitado.
Last, but not least, há os ricos Odete Roitman. Eles usam black-tie, vão à opera, falam francês e jamais confundem os talheres. Mas exibe conhecimento como se fosse uma bolsa de grife vazia: apenas para ostentar. O rico Odete Roitman odeia o Brasil, os pobres e até os outros ricos. Odetes só gostam deles mesmos.
Quando surgiu, nos anos 80, como a vilã esnobe da novela Vale Tudo, Odete fez sucesso porque era a caricatura de uma elite arcaica e mesquinha que parecia estar em extinção. Ledo e ivo engano: Odete Roitman nunca morreu. No máximo, perdeu a vergonha e desaprendeu a usar os talheres.