O Brasil encolheu na noite deste domingo. Se um país tem o tamanho da esperança que deposita no futuro e do valor que dá ao próprio passado, o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, é um golpe que nos achata pelos dois lados.
Não há como recuperar o que se perdeu com a destruição de um palácio de 200 anos em que moraram Joao VI e dom Pedro I, onde foi assinada a carta da Independência, onde a princesa Isabel corria quando era criança. O mais antigo museu do Brasil guardava cerca de 20 milhões de peças, entre elas um meteorito, o maior já encontrado no país, e uma coleção de múmias egípcias, a primeira das Américas. Mas uma história não é feita apenas de objetos. Guardadas as devidas proporções em opulência e antiguidade, o Museu Nacional era nosso Louvre e nosso Versailles ao mesmo tempo. Era a memória de um projeto de nação interrompido. Perdeu-se um pedaço do passado e outro tanto de futuro.
Tragédias acontecem, é verdade, mas não se pode culpar o destino pela incúria e pelo abandono. Em junho, quando completou 200 anos, o museu era um monumento nacional ao descaso – se não o único, um dos mais antigos. Paredes descascadas, fios elétricos expostos e má conservação explícita conviviam com a grandiosidade do passado. Não havia verba nem motivo para comemorar nada. A captação de recursos para a restauração, sempre mais lenta do que as infiltrações e os curto-circuitos, veio tarde demais.
No que se refere à cultura e à preservação da História, o Brasil, muitas vezes, parece ter mais sorte do que juízo. Não desta vez.