Aproveitando o embalo de que a Câmara Municipal de Porto Alegre promulgou, na quinta-feira (5), lei que proíbe o uso exclusivo de cardápios digitais em bares e restaurantes, queria propor uma sugestão.
Acabar com a mania adotada pelos estabelecimentos de alimentação de oferecer guardanapo num envelope. É uma prática que se intensificou com a pandemia e que já pode ser abolida com o retorno da normalidade.
Não devemos transformar um momento provisório de extremo cuidado higiênico em eternidade.
Se paramos de lavar em casa os mantimentos do supermercado, também precisamos interromper tal assepsia nas refeições.
A sensação é que nos encontramos num quarto de hospital, com luvas de borracha.
Não há como se socorrer desse jeito, a conta-gotas. Acabou a espontaneidade e a rapidez do lanche.
Você já comeu um xis ou um cachorro-quente desembalando lencinhos?
É uma aflição para a centopeia em apuros dos dedos, muito pior do que os guardanapos de lanchonete, fininhos, transparentes, que nos obrigavam a destacar uma montanha para fazer sentido, para conter algum derramamento.
Quem teve essa diabólica ideia de empacotar o guardanapo? Não sei. Mas não compactuo com quem pretende prosseguir com o ritual.
Guardanapo em embalagem foi inventado para irritar. Para testar a paciência. Para gerar crise de ansiedade. Para enervar pais com filhos pequenos. Para sujar o celular. Para melecar a mesa. Para emporcalhar a bandeja. Para expor a falta de asseio.
Você está com a boca suja, a mão imunda e ainda tem que desembrulhar um guardanapo para usá-lo. Pela sua natureza descartável, guardanapo exige fácil acesso, rápido manuseio.
A baba escorre pela barba, a maionese desliza pelos lábios, e você não consegue limpar a tempo de evitar o vexame, a risada da sua turma, a foto proibida. A pose constrangedora dura muitos cliques, impedindo a sua reação de defesa.
Nunca vale o esforço. O que tem no pacotinho é um mini guardanapo mirrado, metade de um guardanapo normal, que não vai limpar nada. Terá que abrir mais vinte invólucros para dar conta do recado.
É como abrir correspondência de propaganda, sem nenhuma recompensa na hora de rasgar.
É uma economia de papel que só gasta mais papel, na industrialização do desperdício, num movimento antiecológico.
É um trabalho em vão, o equivalente a tirar uma caixinha vazia de dentro de uma caixinha vazia.
Assemelha-se à matriosca, boneca russa que reúne uma série de réplicas de tamanhos variados, colocadas umas no interior das outras, criando suspense.
Mas se, na cultura russa, a matriosca simboliza a maternidade e a fertilidade, o guardanapo envelopado apenas traduz pilhéria e zombaria.
Ninguém em sã consciência se lembrará de desempacotar os guardanapos antes de comer. Até porque você sempre acha que não vai se sujar tanto.