Se eu fosse esposa de alguém, jamais usaria a mesma toalhinha de rosto do marido. Que cada um mantenha a sua privacidade, pague o seu boleto, resolva o seu B.O.
Estenderia a minha num gancho diferente, no lado contrário do banheiro e, se possível, bordada com meu nome e de outra cor.
O homem é sem noção, e falo por experiência própria.
Num hotel, por exemplo, demonstra tremenda dificuldade para distinguir o pano do chão, a toalhinha e a toalha. Tenta decifrar o tipo pelo tamanho, jamais pela espessura do tecido. A maciez não diz coisa alguma para as suas mãos ásperas de tentáculos.
O que esperar de um sujeito que sai de meias para o pátio ou para o corredor, desprovido do pudor de encardir o par? O que esperar de quem leva o lixo para fora e não lava as mãos em seguida?
É um fatalista por excelência, um desleixado inconsequente.
Não pode ver um pano que o adota para toda situação. Em sua mentalidade, ele é multifuncional, camaleônico. Serve para tudo.
Molhou a pia, já seca com a toalhinha. Molhou o chão, já seca com a toalhinha. Ou recorre a ela para limpar os pés depois de secar o chão e a pia. Não duvide de mais nada.
É bem previsível que ele empregue a toalhinha para tirar uma mancha de pasta de dente da camiseta ou para suavizar uma sujeirinha no tênis. Inclusive, é capaz de se distrair com um telefonema e carregá-la no ombro para os demais aposentos, cometendo crimes de contaminação ainda mais contundentes, como passá-la na louça e nas panelas, confundindo-a com um pano de prato.
Há o suplício das mil e uma utilidades, a natureza claramente confusa e turva do acessório. Seu parceiro de vida e de casa, por mais que seja adulto e responsável, não é capaz de entender a segmentação, a particularidade, o destino específico e exclusivo dos itens de higiene.
Acha que tem que ser elogiado pela limpeza, não importando os meios, os golpes baixos, as transgressões óbvias de decoro.
Talvez esteja espanando o pó dos livros com a toalhinha, ou lustrando a mesa, ou espantando a poeira das estantes e da tela da televisão, sem nenhuma compaixão, já que se preocupa mais com a pressa do que com o capricho. Quer se livrar do incômodo de qualquer jeito, desprezando o procedimento, o mérito da faxina, o método do trabalho.
A migração da toalhinha cresce pelo mundo masculino. Até que ela acaba na garagem, para dar conta do vidro embaçado do carro. Que falta faz um carimbo no passaporte, uma alfândega doméstica.
Não sei se você nota que a toalhinha às vezes some de sua vista. Eu não ficaria tenso com isso. Sofreria com seu reaparecimento repentino. Pois nunca se sabe por onde realmente andou.
Na hora de enxugar o seu rosto, se vier alguma reação alérgica, uma explosão de acne ou uma vermelhidão estranha, não terá sido culpa de um creme que recém aplicou, como costuma acreditar. É a maldita toalhinha em comum. Seu relacionamento não deve ser tóxico, mas ela é.