Não troque um amor por uma paixão. Nunca será uma troca justa, até porque a paixão sempre terá a vantagem do inexplorado, da aventura, da novidade. A paixão é como uma droga forte que cria dependência.
Você só irá querer o vício, não mais a sua vida.
Já o amor é uma tranquilidade muito mais simples de se romper. Pois ele é feito de continuidade, de harmonia, de hábitos. Não tem como competir com a idealização, com a fantasia, com a emoção dos extremos.
A aproximação apaixonada é uma projeção — não tem como descortinar, em pouco tempo junto, se a ousadia não é um desequilíbrio, se a intensidade não é um transtorno de quem não se valoriza, se a entrega não é um desvio patológico de comportamento. Bem pode se apaixonar pela doença de alguém jurando que são virtudes exclusivas de uma atração por você. Até descobrir que a pessoa é assim com todo mundo, não somente com você.
Sair do amor não é uma escolha sábia, posto que o encontro de alma é o mais difícil. Não esqueça que você conhece a paz daquela companhia há vários anos, e talvez esteja optando por ficar com quem você conhece há alguns dias.
Química é passageira, efêmera. O respeito ao seu espaço e seu jeito de ser é duradouro. Estabelecer uma amizade funda e constante representa um acontecimento raro na existência, impossível de reprisar.
Não troque o amor pela paixão. Não troque um casamento que deu certo por uma incógnita.
A paixão é vaidade: você se sente bonito. O amor é verdade: a relação que é bonita.
No amor, já teve seus defeitos acolhidos. Na paixão, você é uma miragem. Não tem noção de como será recebido quando expuser os seus medos, as suas limitações, as suas manias. É o equivalente a adotar uma medicação sem consultar um médico.
E a paixão não vai desembocar num outro relacionamento. Você vai sair do amor para estar sozinho novamente, não para se casar melhor. Trata-se de um ciclo de obsessão, de uma magia inexplicável, de uma loucura sem precedentes, mas voltará à normalidade e a luz das janelas apresentará os rostos desprovidos de maquiagem da fissura.
Uma hora terminará, e você se verá obrigado a se ocupar com as demais fontes de sua felicidade. Com o fim do monopólio de atenção, como reagirá ao abandono?
Pense um pouco mais adiante. Você age pelo instinto e acaba desprezando um amor que demonstrou total confiança.
Se você colocasse na balança a intimidade conquistada entre adversidades e alegrias, jamais a descartaria pela paixão.
Não jogue fora, por uma dúvida excitante, um casamento de tantos anos, uma convicção testada, aprovada, consolidada em viagens, em experiências familiares, em provações e doenças superadas lado a lado.
Um caso será sempre um caso, jamais um casamento. A paixão não se transformará num novo amor. É uma porta de saída, não de entrada. Quem está apaixonado por você não suportará a estabilidade, a calma, o silêncio — tudo que havia de sobra no seu relacionamento.
A saudade dói quando vira arrependimento.