Certidão de casamento deveria ter data de validade. Após um período predeterminado, sem drama, o par faria a extensão do prazo ou oficializaria o fim da parceria no cartório.
Não estou me referindo a uma certidão atualizada da união, necessária para a compra de um imóvel ou para a aprovação de um financiamento.
Sugiro que o casamento possua uma previsão clara de encerramento, dando preferência para a manutenção do vínculo com a anuência de ambas as partes.
Assim reduziríamos o calvário de tantos divórcios, de tantas separações litigiosas, de tantos desgastes em ações na Vara de Família. Veríamos uma economia brutal de tempo nos tribunais.
Não tem mais amor, não tem mais confiança, não tem mais compatibilidade de projetos, não tem mais admiração? Não se renova o matrimônio.
Seria uma atitude prática, talvez recebida com incredulidade pelos mais românticos, mas que traria imensos efeitos positivos para a saúde emocional dos envolvidos.
Diminuiríamos convivências longas indesejadas, duplas enredadas em tédio, lares acovardados, pessoal desanimado no sofá.
Os filhos não cresceriam no meio de discussões, sequer duvidariam da existência da felicidade familiar.
Aqueceríamos a dinâmica dos encontros.
Poderíamos seguir o exemplo da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Afinal, você não deixa de conduzir destinos, o seu e o do outro.
A comparação não é gratuita, pois um mundaréu de pessoas pratica a direção perigosa na relação. Das duas uma: ou os infratores perderiam a carteira por excesso de pontos, ou se afastariam naturalmente ao caducar a validade do casamento.
Que tal uma Carteira Nacional do Amor?
A CNA teria validade de 2 anos para casais de até 30 anos (quando a volubilidade ainda é decisiva), de 5 anos para casais de 30 a 50, de 10 anos para casais de 50 a 70. A partir dos 70 anos, a CNA apresentaria caráter vitalício — ora bolas, daí é o caso do amor para o resto da vida.
Deu certo? Continua, ganha uma extensão.
Também haveria a possibilidade de trocar o regime a cada renovação (comunhão parcial de bens, comunhão universal de bens, separação total de bens e participação final nos aquestos).
Evidentemente, parceiros precisariam atravessar o psicotécnico. Alguns teriam que voltar à sala de aula e realizar uma reciclagem. O que significaria abandonar a grosseria, a pressa e a indiferença, decorar as datas importantes, estudar o seu cônjuge a fundo para perguntas de múltipla escolha, obedecer ao ritmo e espaço dele, assimilar placas de advertência para não interrompê-lo no momento em que ele estiver falando e não insistir diante de um “não”.
A inspeção das condições físicas não iria se restringir ao exame de vista. O candidato se submeteria a uma audiometria rigorosa, para prevenir qualquer fingimento na hora de escutar. Ou ele mudaria e passaria a ouvir de primeira, ou adotaria aparelho auditivo, ou terminaria reprovado para a convivência a dois.