É só saindo de Porto Alegre que você percebe o quanto a cidade é atraente.
Pela variedade de pessoas, de tendências, de situações.
Eu vi um microcosmo semelhante ao da capital gaúcha em Buenos Aires. Você vê ali todo tipo de festa, de apresentações de rua, de comércio. São várias paisagens urbanas, cada bairro é uma cidade. Palermo do Jardim Botânico, do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA) e do Planetário Galileo Galilei. La Boca do Caminito com casinhas coloridas de madeira, das performances de tango e bandas portenhas, dos deuses do futebol de La Bombonera. Puerto Madero dos restaurantes na zona portuária. Recoleta das livrarias antigas e cafés charmosos.
Porto Alegre é igualmente prismática, multifacetada: distribuída pelos gostos. Não há nada grandioso, mas há um pouco de tudo.
Ao mesmo tempo que abre espaço para a contemplação bucólica do pôr do sol no Guaíba e oferece uma longa orla para as caminhadas com chimarrão, é extremamente urbana, workaholic e movimentada no centro e em bairros como Moinhos e Bom Fim.
Comporta o estilo neoclássico do Theatro São Pedro e o contemporâneo da Fundação Iberê Camargo.
Você localiza bar para dançar forró, música popular, rock, sertanejo, música eletrônica. Sempre tem um cantinho para atender a um nicho. São comunidades fiéis que lotam os ambientes.
Existem as feiras orgânicas da Zona Norte à Sul, uma seita alegre cada vez mais numerosa com produtos naturais e sem agrotóxicos.
Existem as turmas de ciclistas e de maratonistas noturnos. Existem os vendedores de artesanato, concentrados no Brique durante o fim de semana e espalhados pelos nossos pontos turísticos nos demais dias.
Existem mercadinhos com produtos autorais: papelarias, padarias, adegas. Você pode achar pelegos para as cadeiras ou os mais excêntricos tamancos. Você pode comprar saídas de praia ou ponchos. Como experimentamos todas as estações, acabamos servindo de guarda-roupa do mundo. Quer galochas para chuva? Temos. Quer conjunto térmico para neve? Temos.
O interessante é dispensar o carro e andar a esmo para se surpreender com as lojinhas. Ou com barbearias estranhas. Ou com bancas de vinis raros. Debaixo dos viadutos, em portinholas nos becos, em subsolos imprevisíveis, você vai começar alguma coleção ou ampliá-la.
Artistas de circo, de folk, de música nativista são escutados nas esquinas. O chapéu para receber moedas é o estojo do violão.
A gastronomia não foge à regra. Os paladares jamais se esgotam. Há as tradicionais churrascarias, mas também restaurantes polonês, alemão, árabe, chinês, japonês, tailandês, italiano. Ainda persistem os rodízios de filé e de pizza. Quem procura pratos fartos e baratos não sairá decepcionado com Tudo pelo Social ou Cavanhas.
Quem é de fora se sente em casa, porque encontra um pedacinho de lugar que representa exatamente a sua casa.
Ao invés de ser provinciana, como muitos ainda acreditam, Porto Alegre é cosmopolita. Uma pequena cidade universalista na América do Sul.
A saudade sempre nos lembra do valor de onde moramos, e o motivo de termos escolhido esse paradeiro como matriz de nossos pensamentos e devaneios.