Meu colega Jocimar Farina chamou atenção, e fui conferir. As famosas pedras portuguesas do piso da Rua da Praia em Porto Alegre, que imitam as ondas do calçadão de Copacabana, estão perigosamente soltas. Podem provocar sérios acidentes a pedestres incautos.
Amontoam-se umas sobre as outras como pequenos vulcões silenciosos, levantando a superfície.
Talvez sejam efeitos colaterais da maior enchente da história da Capital, com eventual colapso das estruturas tombadas como Patrimônio Histórico.
Só que nossa Praça da Alfândega, a menos de dois meses do seu mais significativo evento, a Feira do Livro de Porto Alegre, encontra-se ameaçada.
Trata-se de um quebra-cabeça manual e artesanal, difícil de montar, já que são pedras pequenas e arcaicas que exigem absoluto capricho no encaixe. É mais um trabalho artístico de reconstituição do que tarefa de um simples canteiro de obra.
Se hoje, sem nenhuma grande mobilização urbana acontecendo, o lugar já é motivo de extremo cuidado, fazendo com que os passantes contornem obstáculos, imagine entre os dias 1 e 20 de novembro, servindo de palco para 1,5 milhão de visitantes, com a Feira do Livro funcionando a todo vapor. Não será possível transitar. Não terá nem como instalar as barracas das editoras e livrarias. O solo é capaz de afundar mais, e desmembrar, e danificar uma maior extensão do conjunto das lajes.
Além da esquisita e controvertida reforma na Rua dos Andradas, em que ocorreu a substituição pavorosa das pedras antigas de basalto por blocos de concreto, enfeando por completo o coração do centro da cidade, temos esse novo problema a corrigir em tempo recorde.
A pressa é inimiga dos principais cartões-postais da Capital gaúcha, que não devem ser desfigurados em obras provisórias, mas mantidos com seu caráter e charme originais.
E quem dera que esse fosse o único desafio hercúleo da Câmara Rio-Grandense do Livro para comemorar a 70ª edição da maior feira a céu aberto da América Latina. Ainda há a questão do orçamento para viabilizar cerca de 160 atividades, 120 mesas de bate-papo, 20 apresentações artísticas, 15 oficinas de escrita e literatura e 620 recreações na área infantil e juvenil. A contagem regressiva assusta, levando em conta que 46 dias nos separam da sua inauguração com o soar das sinetas pelo patrono Sergio Faraco.
Falta captar metade dos recursos para colocar em pé o gigantesco cenário que envolve 500 autores e 73 livreiros. Existe a carência de R$ 1,5 milhão.
Todo ano é a mesma sina, a mesma enxaqueca financeira para o presidente da entidade, Maximiliano Ledur.
O incentivo está liberado dentro da Lei Rouanet. O que se precisa é de mais empresas parceiras, dispostas a contribuir com a cultura buscando isenção de impostos. Alguma marca se candidata?
A septuagenária feira não merece viver de esmolas. Afinal, é responsável pela comercialização de mais de 200 mil livros, cerca de 10% do faturamento anual do mercado editorial gaúcho.