O piso da Praça da Alfândega, no centro histórico de Porto Alegre, tem representado risco a pedestres que circulam na região. As pedras portuguesas estão soltas em vários pontos, e em alguns trechos é preciso desviar dos desníveis da calçada para seguir adiante.
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Praça da Alfândega passou por sua última revitalização em setembro de 2019. Na ocasião, foram substituídos 190 metros quadrados de pedras portuguesas.
Além disso, na época, os bancos passaram por pintura e houve a substituição de lixeiras e gradis quebrados. Porém, neste ano, a enchente de maio alagou o espaço e novos reparos são necessários.
Na manhã desta terça-feira (10), Luciane Aguirre, 50 anos, caminhava com o auxílio de uma bengala na Rua da Praia, em frente ao número 1.111. Após olhar para o chão esburacado, resolveu contornar para evitar acidente.
— A situação está horrível na Praça da Alfândega. Já caí e me machuquei várias vezes — reclama.
O aposentado Nilson Oliveira de Amaral, 64, locomove-se com dificuldade desde que sofreu um acidente de carro. Teve sérias lesões no fêmur, quadril e ficou com sequelas na perna direita. Ele circula diariamente pela região central da cidade.
— Para pessoas aposentadas como eu, que tenho problema na perna, isso aqui fica muito ruim para caminhar. E não só para mim, mas para muitas pessoas que precisam do caminho que está assim — observa.
Moradora da Rua da Praia, a aposentada Bernadette Chauvin, 85, também pede uma solução para o calçamento:
— Acho que precisam dar um jeito nisso. Por que deixaram as pedras estragadas?
Outro trecho esburacado fica quase ao lado da banca do mel, situada entre o Banrisul e a Caixa Econômica Federal. A comerciante do ponto, Lucélia Nunes, 42, comenta que o movimento no Centro ainda sente os impactos da enchente e não voltou ao normal. Conforme ela menciona, outro problema ocorre na Praça da Alfândega.
— Quando chove, a água do esgoto vem por cima das bocas-de-lobo e inunda tudo aqui — compartilha.
O que diz o Iphan
Superintendente do Iphan no Rio Grande do Sul, Rafael Passos afirma que não tramita no órgão qualquer projeto da prefeitura da Capital em relação à revitalização do piso de pedras portuguesas da Praça da Alfândega. Segundo conta, o que corre é um plano de ajardinamento e troca de vegetação atingida pela cheia.
— A prefeitura tem que pedir autorização apresentando a forma da intervenção no piso, mesmo para restauro ou conservação. Tem algumas áreas sem piso e outras feitas de forma equivocada com novas pedras — relata o superintendente, dizendo que os rejuntes também foram feitos de maneira irregular em alguns pontos.
Conforme o Iphan, a prefeitura também será notificada para demolir uma pequena casa de eletricidade, localizada perto do Memorial do RS. A construção na Praça da Alfândega teria sido feita sem autorização do órgão.
Ex-presidente do Conselho do Patrimônio Histórico Cultural (Compahc) — órgão de participação da comunidade na administração pública municipal —, Lucas Volpatto dá detalhes de como funciona a substituição das pedras no espaço tombado.
— É uma prática específica feita por mestres calceteiros, que sabem calçar e fazer os mosaicos — afirma.
O que diz a prefeitura
A reportagem de Zero Hora questionou a prefeitura se há algum projeto em desenvolvimento para a manutenção ou troca das pedras portuguesas na Praça da Alfândega. Por nota, o Executivo municipal respondeu o seguinte:
"A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa e a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos fazem a conservação rotineira do pavimento da Praça da Alfândega, assim como dos passeios e canteiros do local no Centro Histórico. O piso de pedras portuguesas recebe manutenção periódica e sempre que ocorre algum desgaste a Prefeitura providencia o reparo a fim de preservar este patrimônio histórico localizado em um dos símbolos da cidade."