O chimarrão é parceria, é para ser celebrado em bando, da esquerda para a direita.
O chimarrão é feito para girar. Você não pede chimarrão, ele é oferecido.
O silêncio é concordância. Você só diz “obrigado” quando não quer mais.
O chimarrão nos ensina que não estamos sós. Não nascemos para o confinamento, para o isolamento.
O chimarrão nos mostra como nos ajudamos, como vivemos em grupo, como abrimos o nosso coração contando histórias, como tudo sucede ao redor das canções de nossa terra.
Ainda vamos voltar a rir. Ainda vamos voltar a ser leves. A dor um dia será lembrança finda, a ferida um dia será cicatriz fechada, a enchente um dia será marca na parede.
Não agora, não hoje, não amanhã. Um dia! Depois dos helicópteros e barcos. Depois do mutirão. Depois dos rodos e das pás. Depois do cimento e da tinta. Depois da reconstrução dos ninhos.
Não podemos nos esquecer do chimarrão. É o nosso fogo reinventado.
O chimarrão significa família, amizade, confidências.
Não tem solenidade, não tem cerimônia, não tem exigência, não tem que pagar prenda, não depende de convite, é apenas puxar uma cadeira e se aprochegar.
Quem é de fora passa a ser parte do círculo. O círculo cresce conforme as visitas e jamais se quebra. Uma vez no círculo, você não é mais posto de lado.
O chimarrão é respeito, tradição, apego às raízes.
Não mata somente a sede, mas a fome de estar junto.
Na roda, nenhuma pessoa é melhor do que a outra, a companhia nos torna melhores. Por isso, você deve segurar o chimarrão com a mesma mão que cumprimenta: a mão da sinceridade, da palavra firmada, do pacto, do acordo, da promessa, da confiança.
Não há inverno que o esfrie, não há verão que espante o hábito.
Alguém aquecerá a água, alguém carregará a térmica. É um trabalho de equipe, de igualdade, de complemento.
O chimarrão é o mate amargo que fica doce pelo convívio.
A mateira é nossa mochila no desespero ou na exaltação, permitindo que a nossa bebida aconteça em qualquer lugar, em qualquer situação, em qualquer estrada, em qualquer momento.
Toma-se para relaxar. Toma-se para reagir. Toma-se para pensar. Toma-se para decidir.
É um vício e um apoio, é uma virtude e um conselho.
Nunca deixamos ninguém morrer com a cuia na mão. Que ela siga em frente. Que continue rodando, cumprindo o seu destino, reiniciando ciclos.
O chimarrão será sorvido até ficar lavado. Até escurecer a erva. Até anoitecer. Até surgirem as estrelas no céu do Rio Grande.
Todos precisam fazer o mate roncar antes de passá-lo adiante. Só o entregamos depois do ronco. Nunca bebemos a vida pela metade. Nunca sucumbimos. Somos incansáveis mateando desde cedo, desde sempre.
Existem aqueles que acordam com o café, e existimos nós no mundo, nós que sonhamos com o chimarrão.