Nunca houve uma demanda tão grande de pets desabrigados quanto a que estamos vivenciando, depois do maior desastre ambiental do Rio Grande do Sul.
São 6 mil bichinhos abandonados nos abrigos em Porto Alegre, 10 mil em Canoas, 20 mil ao total na Região Metropolitana.
O ritmo de adoções é lento, a conta-gotas.
Vem sobrando muita companhia canina que precisa de um lar, que precisa de carinho, que precisa de uma segunda chance e de uma segunda família para se curar do trauma.
Afinal, os mascotes acabaram de sair de uma situação de estresse agudo, insegurança e vulnerabilidade. Tiveram que resistir em condições adversas, lutando contra as cheias. Alguns nadaram por horas a fio até um lugar seguro, outros atravessaram dias trancados em casa sem comida.
Dependem agora de um amor maior, que seja forte o suficiente para devolver a saúde emocional e a paz do convívio.
Quanto maior o período presos numa coleira, experimentando a cruel expectativa e o suspense nos abrigos provisórios superlotados, maior será o sofrimento reativo deles, dificultando adaptações.
Entre os cachorros perdidos, predominam vira-latas, o que complica a adoção.
Não se deve pensar em raça ou priorizar pedigree, mas centrar o foco na natureza desinteressada da solidariedade.
A princípio, é possível achar que o acolhimento é caridade, que o adotante está fazendo um favor. Mas, com o passar dos meses, ele verá que receberá muito mais do que o espaço e o tempo dados. Aumentará a sua família. Terá, em contrapartida, para sempre, o valor inestimável da amizade, a lealdade incondicional e a gratidão mais pura, decorrente da confiança.
Para facilitar o match, existe uma central única para adoção no Estado, em que os cães foram microchipados. Ou seja, encontram-se com sua carteira de identidade em dia.
É a Jujuba, a Amy, a Lisa, o Juca, o Rocky, a Beth, o Bidu, o Fofinho, o Nino, com seus focinhos úmidos, seus olhos carentes e brilhantes, na lista de espera.
Todos têm um nome, uma fotografia e uma história de superação, e sonham com um destino feliz.
A preferência é pelos tutores antigos, que contam com 10 dias para manifestar o interesse. Esgotado esse prazo, viabilizam-se novas proteções.
A promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Annelise Monteiro Steigleder, destaca a força-tarefa heroica para garantir um paradeiro à legião de cachorros recolhidos da enchente:
— Estamos trabalhando em vários tempos e frentes simultaneamente. Havia pets resgatados idosos, ou feridos, ou com necessidades especiais. Foram, pouco a pouco, tratados com atenção individualizada e reencaminhados para o cadastro e uma completa ressocialização. Já estão bem melhor do que quando chegaram.
O apoio do voluntariado contornou resistências orçamentárias do momento, já que a Capital tem apenas 40 veterinários contratados para cuidar do contingente de milhares de órfãos.
Se você sentiu o chamado do coração, foi tocado pela esperança, procure um parceiro incansável para os seus dias. Um sobrevivente como você, que entenderá telepaticamente as suas dores e secará as suas lágrimas em meio às incertezas.
O cadastro pode ser acessado em https://adoters.org.br/