Se você não tem uma hora, não costuma visitar um amigo. Se você não tem uma hora, não costuma visitar um familiar. As visitas são cada vez mais raras porque julgamos nunca ter tempo.
Exigimos uma disponibilidade incomum para as nossas semanas conturbadas e apertadas. Justificamos o nosso sumiço, a nossa ausência diante de conhecidos e parentes pelo excesso de trabalho, pela vida corrida.
“Vamos marcar algo!” é uma promessa, em esbarrões pela rua, que não se concretiza. O apelo dentro do “tchau” vira uma mentira educada.
Quantos encontros você tem com seu círculo de afetos por mês? Um, dois? Não deveriam ser mais constantes?
Facilmente passamos um mês sem abraçar o pai ou a mãe que moram na mesma cidade, pela ideia de que 15 minutos, 20 minutos jamais serão suficientes para dar conta do recado.
Idealizamos as ocasiões, juramos que elas necessitam se estender, render um almoço ou jantar. Dependemos de pretextos e contextos que encareçam as circunstâncias.
Nossas expectativas giram em torno de uma suntuosa folga para tirar o atraso das conversas.
Esperamos que sábados e domingos cumpram o propósito de satisfazer todas as pendências sentimentais.
Não há redenção. Não há solução. Seguimos perdidos no sonho de conceder o nosso melhor, e assim não oferecemos sequer o nosso mínimo.
Somos fantasmas da intimidade, assombrações da amizade.
Consideramos 15 ou 20 minutos um troco, um nada, uma ninharia de atenção. Até enxergamos uma passada rápida como uma desfeita. Até caracterizamos depreciativamente, em nosso imaginário popular, a aparição relâmpago como própria de “cachorro magro”.
Esquecemos que o tempo não se mede pela quantidade, e sim pela qualidade da presença. Esquecemos que a intensidade resolve muito mais do que a morosidade dispersiva.
A você que acredita que não desfruta de rotina para consumar suas visitas, eu devolvo com uma indagação: qual a duração do recreio da escola?
Não são exatamente 15 minutos, 20 minutos?
Agora pense o que você fazia no recreio.
Tudo, né?
Você lanchava, batia papo com os colegas, ia ao banheiro, jogava bola, realizava um dever pendente, estudava para a prova do período seguinte.
Quantos recreios você anda colocando fora? Quantos recreios vem desperdiçando? Quantos recreios estão inativos em sua existência adulta?
Você não precisa de mais do que 15 ou 20 minutos para tornar alguém feliz. Para aparecer de repente na casa de suas pessoas prediletas. Para aumentar a frequência de seus carinhos. Para dar um bom abraço e perguntar como foi o dia. Para tomar um café e roubar uma fatia de cuca. Para matear e saber das últimas novidades.
No lugar de procrastinar pelas redes sociais, rolar o dedo pela tela desprovido de destino e sentido, somente para se sentir ocupado, você pode usar seus pequenos intervalos para grandes demonstrações de amor.
Que as batidas do coração reproduzam a sirene da escola.